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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Sara & André - Pauliana Valente Pimentel. Edição de 3+1, Impressão Digital em Papel Epson - Fine Art. 80 x 110 cm


André Trindade, “Auto-retrato com Caveiras”. Escultura. 99 x 133 x 23 cm


Yonamine, “S/ Título (Casal Boss)”. Instalação e vídeo. 240 x 240 x 50 cm, 26' loop.


Sara & André - Ana Pérez-Quiroga, “Breviário do Quotidiano #10”. Role of the Artist; Entrevistas; Recensões. 3 painéis – 96 x 112 cm


Contrato

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Centre Pompidou, Paris
CONSTANÇA BABO

ARQUIVO:


SARA & ANDRÉ

Sara & André




3 + 1 ARTE CONTEMPORÂNEA
Largo Hintze Ribeiro 2E-F
1250 – 122 Lisboa, Portugal

20 JUN - 31 JUL 2008


Há uma dupla auto-referencialidade inata ao trabalho da dupla Sara & André, que se prende não apenas com a imediata, e tão sensível, promoção de si próprios enquanto objecto discursivo. Na realidade, esta funde-se e é consequência de uma outra, maior e verdadeiramente estruturante, e que é, na sua primeira exposição individual, finalmente revelada – um profundo enraizamento teórico na história da arte. A incompreensível despolitização e irresponsabilidade social característica do trabalho da generalidade dos comercialmente apetecíveis artistas emergentes tem aqui uma proposta do seu reverso. Nada é feito ao acaso. E isso, hoje em dia, não é pouco.

A contratualização é a manifestação embrionária do projecto Fundação Sara & André. Claro que a ideia não é nova. Assenta numa percepção, não tão contemporânea assim, da arte enquanto produto comercial e mercadoria fetiche do sistema económico e mediático. Essa condição mercantilizável não é somente apanágio do produto como também da própria personalidade dos agentes envolvidos. E isto também não é novo. A celebridade é motor de consumo desde Salvador Dalí a Andy Warhol, de Jeff Koons a Damien Hirst, de Truman Capote a Maurizio Cattelan, entre outros. Antiguidade, porém, não significa necessariamente esgotamento. Em potência, e até o dia da neutralização do paradigma do espectáculo, everybody is a star. Prepare-se, então, toda a munição disponível.

O combate faz-se em arena própria mas o problema é, para Dan Graham (e então também para S&A), como apresentar uma crítica do sistema capitalista sob a forma de um produto que faz precisamente parte desse sistema? Aqui assenta a contradição relacional com a contradição do sistema ele próprio. Como não o alimentar? Alimentá-lo com doses, venenosas e intravenosas, mais ou menos controladas de cinismo mais ou menos revolucionário? Adoecê-lo, miná-lo, bombardeá-lo com arremessos de humor, ridicularizá-lo, levá-lo ao absurdo (ou seja, trazê-lo à superfície)? Mas esta também não é uma estratégia nova...

Que fazer?

Implicação e crítica, adesão e derrota (Paul Ardenne), ou radicalização do discurso (insubmissão, desobediência e violência)? Ou seja, como criar hoje? Ana Amorim – a artista (brasileira) impossível – escreve cartas anti-corporativas aos agentes do sistema da arte (e porque dele participa, também recebe respostas). O seu curriculum é uma listagem de recusas sistemáticas de participação em eventos. Para Derrida, toda a arte política implica uma actuação de radical desconstrutividade, ainda que esta possa parecer paradoxal e contraditória.

Sara & André fazem uma exposição hands-off. Escolhem não os melhores artesãos (como Koons) mas os artistas possíveis dentro da micro-estrutura económica que é a sua própria galeria, e iniciam uma linha de produção, uma espécie de mini-Factory em Open Studio. Fazem das contradições económicas do seu ambiente as suas próprias premissas conceptuais – se cinquenta por cento do valor de venda das obras em exposição reverte para o galerista, porque não há-de ser a ele, numa análise feita em espelho, delegada toda a produção da exposição, servindo-se da sua própria mercadoria: os outros artistas? Se S&A tivessem seguido, para além das estratégias de criação de uma Fundação e da delegação sistemática de trabalho, outras orientações do trabalho de M. Cattelan e reproduzissem a sua acção de pendurar o galerista no tecto, minimizariam ou maximizariam o factor de risco desta exposição?

A exposição é, no entanto, eficaz, e obedece a uma montagem rigorosa. Os artistas que integram a exposição trabalham a inacessibilidade da própria dupla enquanto retrato-fenómeno de uma vanguarda improvável ou impossível – para Walter Benjamin, a inacessibilidade é a qualidade primordial da imagem de culto. A obra documental e referencial de Ana-Pérez Quiroga é a sua âncora reflexiva, fundamental também para a legitimação do seu próprio discurso – a contenção e a maturidade da sua participação é a assumpção mais imediata de que essas características são também autoportantes do trabalho de S&A. No lado oposto, a fragilidade semi-controlada do ruído, do excesso, da ironia e da juventude quase libertária, heróica e cine-chunga-remissiva da instalação de Yonamine. Entre eles, André Trindade, Pauliana Pimentel, Pedro Kaliambai e Susana Guardado, ou ego, narcisismo e masturbação. Que a guerra continue. If all else fails, have fun and fuck things up.




Lígia Afonso