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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Leonora de Barros. Vista geral


João Penalva, “336 Rios”, 1998


Jaume Plensa, “Silent Rain”, 2003


Cabelo, “Mi casa, su casa”, 2004


Pedro Valdez Cardoso, “Na sombra”, 2006


Sandra Cinto, “As palavras e as coisas”, da série “Dias felizes, noites de esperanças”, 2006

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ARQUIVO:


COLECTIVA

Entre a Palavra e a Imagem




MUSEU DA CIDADE
Campo Grande, 245
1700-091 Lisboa

23 FEV - 29 ABR 2007


Entre a Palavra e a Imagem existem variáveis híbridas infinitas. Fundadas nessa cumplicidade, em registos multidireccionais e transdisciplinares, são apresentadas no Museu da Cidade (casa histórica de confirmação da importância do valor do texto na obra, não tivessem ali acontecido as exposições antológicas de Mário Cesariny e, mais recentemente, de Álvaro Lapa) obras de 39 artistas, equitativamente seleccionados entre Portugal, Brasil e Espanha, cujo sentido de conjunto aponta para possibilidades diferenciadas de experienciar o interrelacionamento plástico dos conceitos “palavra” e “imagem”. A vertigem das práticas (pintura, desenho, escultura, vídeo, fotografia, performance, instalação, filme, etc), a transversalidade cronológica (obras datadas entre 1963 e 2006) e a geografia comparada traduzem um entendimento universal de uma problemática cuja inesgotabilidade nesta exposição se confirma, e é na consciência da impossibilidade do seu inventário exaustivo que se deve redimensionar a importância dos trabalhos e dos nomes dela ausentes.

De comissariado tripartido (Fátima Lambert – Portugal; Paulo Reis – Brasil; Cecília Costa – Espanha) a exposição, dividida entre o Pavilhão Preto e o Pavilhão Branco, não denuncia determinações territoriais ou geracionais. Há uma lógica de confluência que resulta da omnipresença dos conceitos fundadores, que promove leituras simultaneamente particularizadas (que remetem historicamente para a origem dos movimentos pós-modernos que alguns artistas integraram, como sejam o Concretismo, Neo-Concretismo, Nova Objectividade ou Poesia Experimental, longamente tratados nos artigos de fundo publicados em catálogo); e outras indistintamente cruzadas: aproximações inesperadas que resultam circulares no insólito reposicionamento a que as obras se obrigam. São múltiplas as possibilidades discursivas e as direcções condutoras, e ambíguas as relações criadas entre obras eternas e outras profundamente datadas. A universalidade da linguagem resulta numa espécie de neutralização dos referentes culturais específicos, por si naturalmente próximos, pelo que o domínio de intervenção é desta forma tornado global.

Entre a palavra e a imagem existe a palavra da imagem e a imagem da palavra, escrita visual / imagem textual cuja natureza se apresenta aqui, simultaneamente, conceptual, material, social, cultural, política, pessoal, emocional, simbólica e somática. São essas múltiplas dimensões que as obras reivindicam, diferentemente entre si e entre o espaço que, para além da palavra e da imagem, também lhes pertence e lhes dá sentidos outros. Da mesma forma que o projecto de exposição se apresenta sucessivamente reinterpretado em cada uma das fases da tripla itinerância em curso (Espanha, Portugal, Brasil), também no Pavilhão Preto e no Pavilhão Branco são dadas a ver/ a ler duas aproximação distintas ao conceito original, necessariamente pensadas em estreita complementaridade.

No Pavilhão Preto há um estaticismo aparente, um rigor ortogonal que se liga à depuração ascética das monocromias em papel. A vocalização é contida, apenas sussurrada num feminino que ameaça destabilizar, a qualquer momento, a dimensão silenciosa do espaço. Da boca forçosamente cosida de Helena Almeida (“Ouve-me”, 1979) à libertação em grito de Leonora de Barros (“No país da língua grande, daí carne a quem te fome”, 1998) há um percurso que se desenvolve em questionamento da qualidade semântica do género: uma sala com obras de mulheres com uma presença tímida de um homem, uma sala com obras de homens com uma presença determinante de uma mulher (a mesma Leonora de Barros) que se questiona num vídeo-poema cujo encadeamento rítmico e sonoro se transforma no pulsar interno do próprio espaço (“Não quero nem ver”, 2005). Entre estas obras, destacam-se outras que procuram a intimidade do registo linguístico do quotidiano, do diário, do caderno ou do livro de artista, realizadas por Ana Hatherly, Mira Schendel, Ana Maria Maiolino, Joan Brossa, Álvaro Lapa, Artur Barrio, Perejaume, Lourdes Castro, José Spaniol, Antoni Muntadas, Jorge Barbi e outros. Fundamental o vídeo de João Penalva (“336 Rios”, 1998), projectado numa sala (simulada) de cinema de grandes dimensões, cuja qualidade descritiva e narrativa do texto (russo legendado em português) sacrifica progressivamente a imagem mostrada (mas não correspondente) em função de uma projecção imagética individual e subjectiva. O resultado cruza-se em masculina, grave, pausada e transformadora sonoplastia com o vídeo anterior, questionando-lhe o predomínio dentro do ambiente expositivo.

No Pavilhão Branco, caracteres, palavras, frases, grafismos, ideogramas, caligramas e anagramas libertam-se dos constrangimentos convencionais do suporte e, rompendo com eles ganham, através do seu redimensionamento objectual, um profundo potencial dinâmico na ocupação e alteração do espaço físico que os congrega enquanto conjunto diferenciado. As obras de Jaume Plensa (“Silent Rain”, 2003), Ignasi Aballi (“Un paisage posible”, 2006) e Eva Lootz (“Written Carpet”, 1990) estabelecem relações de monumentalidade com o espaço específico interior e exterior do pavilhão, tirando partido da transparência dos materiais construtivos (vidro, luz, espelho) e da envolvente natural do edifício. A determinação do lugar é evidente no conjunto de obras ali instalado, que se relacionam de forma também directa com as referências literárias (eruditas e científicas) que lhes dão corpo e cujos componentes gráficos e aparelho linguístico lhes são matéria. Porém, o seu condicionamento joga simultaneamente a desfavor da ousada relação espacial entre a obra de Cabelo (“Mi casa, su casa”, 2004) e Antoni Tàpies (“Suite catalana nº1”, “Suite catalana nº 2”, 1972), na qual interfere ainda, de forma inconsequente, a actualização plástica dos grafitti levada a cabo por Nuno Ramalho (série “Derrotado”, 2006). João Louro, Pedro Valdez Cardoso, Rosa Almeida, Pedro Casqueiro, Julião Sarmento, Sandra Cinto, Almudena Fernández Fariña, Arnaldo Antunes e Adriana Calcanhoto completam a apresentação de obras no pavilhão, de onde importa ainda destacar os vídeos de compulsão patológico-criativa de Susana Mendes Silva (“Ritual”, 2006) e de ironia auto-reflexiva de António Olaio (“If I wasn´t na artist…”, 2001) cujo registo musical conclui e recentra a exposição na problemática mnemónica da linguagem.

Com erros na identificação das obras em exposição, com revisão e tradução de catálogo questionáveis, uma folha de sala programaticamente redundante e uma obra fundamental cuja vídeo-transcrição se encontra há muito indisponível por tempo indeterminado (Arnaldo Antunes, “Nome”, projecto composto de vídeo + cd + livro, 1993), “Entre a Palavra e a Imagem” resulta marginal por uma assinalável fragilidade nos mecanismos de divulgação que negam a vocação mediática que o potencial absolutamente extraordinário do conjunto de obras seleccionadas eventualmente contêm. A decorrer até 29 de Abril.


Lígia Afonso