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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista de exposição; Objectos em Eterno Colapso; João Ferro Martins; Pavilhão Branco; 2020. © João Ferro Martins


João Ferro Martins; Studio Eloise; 2020; Instalação site-specific. © João Ferro Martins


João Ferro Martins; Studio Eloise; 2020; Instalação site-specific. © João Ferro Martins


João Ferro Martins; Studio Eloise (pormenor); 2020; Instalação site-specific. © João Ferro Martins


João Ferro Martins; Studio Eloise (pormenor); 2020; Instalação site-specific. © João Ferro Martins


Vista de exposição; Objectos em Eterno Colapso; João Ferro Martins; Pavilhão Branco; 2020. © João Ferro Martins


Edições LP, AdA – Archiv der Avantgarden, Dresden; Múltiplos títulos; Múltiplos editores; 22 items – Ø 30 cm. 33⅓ RPM. © João Ferro Martins


João Ferro Martins; 8 Pioneer PL-100; 2020; Impressão 3D; 9 x 41,7 x 35,4 cm. © João Ferro Martins


João Ferro Martins; Mute Speakers [Oradores Mudos]; 2020; 77 colunas áudio; Medidas variáveis. © João Ferro Martins


João Ferro Martins; Mute Speakers [Oradores Mudos] (pormenor); 2020; 77 colunas áudio; Medidas variáveis. © João Ferro Martins


João Ferro Martins; Mute Speakers [Oradores Mudos]; 2020; 77 colunas áudio; Medidas variáveis. © João Ferro Martins

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JOÃO FERRO MARTINS

OBJECTOS EM ETERNO COLAPSO




GALERIAS MUNICIPAIS - PAVILHÃO BRANCO
Campo Grande, 245
1700-091 Lisboa

12 NOV - 24 JAN 2021


 

 

 

«Não há um, mas muitos silêncios, e eles são parte integrante das estratégias que sustentam e permeiam os discursos» (Michel Foucault)

«A vida surge como uma confusão simultânea de ruídos, cores e ritmos espirituais e é assim incorporada - com todos os gritos sensacionais e excitações febris da sua audaciosa psique quotidiana e a totalidade da sua realidade brutal…» (Manifesto DADA, Richard Huelsenbeck)

 

A exposição «Objectos em Eterno Colapso» é um universo autónomo criado por João Ferro Martins com o seu próprio colapso gravitacional, superfícies aprisionadas e buracos negros. Relatividade Geral do artista baseada na inversão, mudez ou som imaginativo e confusão simultânea como 'Gesamtkunstwerk'. O som é desligado neste universo como um gesto intencional. Pode ser lido como o silêncio que existe antes do discurso e mais fundamental do que a verdade ou a identidade (Foucault). Ou como o silêncio que une os seres humanos por um certo tecido sensorial, uma certa distribuição do sensível, que define o seu modo de estar juntos (Rancière). Ou falando por palavras de Susan Sontag, como o silêncio que um artista usa como “uma zona de meditação, preparação para o amadurecimento espiritual, uma provação que termina em ganhar o direito de falar” [1].

Entramos neste universo silencioso da exposição ao seguir a fita de Mobius da narração que João Ferro Martins propõe ao público. Começa com a instalação “Studio Eloise”, criada como um palco ou cenário teatral onde os objetos representam um caos organizado. Cadeiras, fios, papéis, altifalantes, etc., ocupam o espaço, sucedendo-se a uma estructura apocalíptica que vai além das fronteiras da galeria e rompe pelo jardim. De um lado da instalação, vemos uma cadeira de plástico em adiada caída triunfante situada em três pódios de mármore - presumivelmente criará um som que fica suspenso na realidade, mas que pode ser percebido na nossa consciência. Um fenómeno abstracto (ainda) de acção ou som não realizado é uma linha vermelha desta exposição onde as obras de arte continuam a sua “proceduralidade” na imaginação do público.

No outro canto da sala estão expostas de forma desalinhada duas cassetes de Karlheinz Stockhausen (Mikrophonie I e II) como glorificação de dupla inversão: a primeira é que Stockhausen usou microfones como instrumento musical para criar essas peças, e segundo - Ferro Martins usa cassetes que não são tocadas para preencher o espaço com música.

Passando para o próximo espaço do Pavilhão Branco, encontramo-nos com “Trapped surface” - um enorme objecto preto parecido com vinil que metaforicamente se refere ao colapso gravitacional que aconteceu na sala anterior, ou ao estudo da hipótese da censura cósmica que poderia acontecer até mesmo neste universo paralelo.

Em frente ao buraco negro de “Trapped surface” situa-se “Moog System 55” - apoteose do primeiro sintetizador comercial, forma vazia primorosamente expelindo fios inúteis. Um sinal de desafio ao “estúdio de música electrónica portátil” e que se tornou num pesado monumento meio século depois. Ou talvez seja uma dica subtil sobre a censura cósmica, já que por um período o Moog foi banido do uso em trabalhos comerciais de acordo com uma restrição negociada pela Federação Americana de Músicos. A obra musical na era da reprodução mecânica.

 

João Ferro Martins; Moog System 55; 2020; Aço inox, cabos e fichas áudio; Módulos e suporte 145,2 x 123,2 x 35,6 cm. © João Ferro Martins

 

Na mesma sala vemos a fita de Mobius emoldurada - protótipo simbólico do universo e uma inspiração metafísica que ajudou a melhorar sistemas de correia ou gravações contínuas em cassete. Na outra parede podemos notar uma capa de “Le Voyage” de Pierre Henry, que não é apenas um pioneiro da música concreta, mas o compositor que criou a música tema da série Futurama. “Le Voyage” é a jornada da alma entre a morte e a reencarnação na próxima vida, que pode referir-se à ideia de “Libertação pela Audição”, mesmo que não haja nada audível para ouvir.

Continuando a nossa viagem pela exposição de Ferro Martins subimos à galeria onde está exposto um arquivo de música de vanguarda da colecção Staatliche Kunstsammlungen Dreseden. É como uma banda sonora muda, paisagem particular que envolve o artista ou o discurso com que trabalha. Das edições de Stockhausen - avô da música electrónica, o compositor mais radical que primeiro afirmou uma ideia de música espacial; William Duckworth e o seu espaço musical com uma arquitetura duracional baseada no tempo proporcional, Steve Reich e a música minimal, La Monte Young e a sua exploração de tons sustentados, Alvin Lucier e o seu som físico, através da poesia sonora, musique concrète, música ambiente e muito mais. As capas são acompanhadas pela longa fila de copos de vinho vazios que podem celebrar a memória desses tempos de vanguarda.

Nesses tempos foi possível fazer uma imitação barata da criação de Eric Satie para a coreografia em segunda mão de John Cage e Merce Cunningham que ecoa com a impressão 3D de Pioneer PL-100 no universo de Ferro Martins, outra inversão que atesta significado à cópia comparada ao original.

O espaço final da exposição é preenchido com a instalação “Mute speakers”. Altifalantes falsos projectam o não-som, uma temporalidade baseada na mudez como ideia oposta ao tempo medido por uma estrutura de melodia (Husserl), tempo alternativo do «som nunca tocado». Ou se o 4′33″ de Cage se baseia em sua ideia de que quaisquer sons podem constituir música, então podemos supor que a teoria de Ferro Martins é que qualquer não-som pode constituir música, que a música não é mais uma questão de audição, mas de cognição, “ não físico ... mas efémero”, como o curador Tobi Maier observou no texto da exposição.

«Objectos em Eterno Colapso» proporciona uma confusão simultânea de objetos e discursos que une o público por um certo tecido sensório que João Ferro Martins cuidadosamente criou no Pavilhão Branco. A sua instalação totalmente silenciosa refere-se à realidade e ao mesmo tempo escapa-se dela. E eu acho que o mais importante nesta exposição é que quando saímos dela e entramos no mundo real, nada mudou lá fora mas o nosso mundo entra em colapso e mudez da mesma maneira.

 

 

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Notas

[1] Susan Sontag, The Aesthetics of Silence (1967).



DASHA BIRUKOVA