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PEDRO CABRAL SANTOOMNIA![]() ASSOCIAÇÃO 289 SÃtio das Pontes de Marchil 11 MAI - 07 JUL 2019 ![]() ![]()
The fascination of what's difficult
Composta por 12 peças que estabelecem um diálogo entre si e com a restante obra do artista, esta exposição abarca, e traduz, o percurso já longo de Cabral Santo e permite-nos entrever, admirar, perscrutar, as obsessões que o movem - o desejo do irreparável que, nas palavras de Giogio Agamben, “é o facto de as coisas serem como são, deste ou daquele modo entregues sem remédio à sua maneira de ser.” O irreparável é o mundo com suas contradições – sagrado e profano, doloroso e prazenteiro. O mundo é o mesmo para quem sofre ou se regozija, o que muda são os seus limites, as coisas dadas são como são. E é sobre limites que nos fala cada uma das 12 obras: começando pelo fim, The Dead of Captain America, representa a morte de um heroi, e de um modelo de vida, ao mesmo tempo que o imortaliza e conserva viva a sua memória – a morte encenada do Capitão América traz-nos de volta a sua existência mesma e questiona, através do dispositivo, a permanência da ideologia que se traveste de norma. Red Flag, Red Eye/Blue Eye, 1999 Gulliver, Turn left, Turn left e Oxido (Play europe) fazem parte do mesmo dispositivo discursivo que alude ao universo político/partidário do artista.
Podemos ler qualquer obra por si mesma, mas ela só existe em relação a quem, em dado momento, fê-la surgir, transformando o pensamento em gesto e a alusão em objeto. O universo do artista é da ordem do irreparável, existe além dele mesmo, e é bastante vasto. Dele surgem obras como Yeats, The Space Invader, Human, just Human, Jet out of the Sky (Sea of madness) e Su Pressione que conjugam erudição com cultura de massa, num jogo de suportes e matérias dissonantes, de palavras, de sobreposições e de citações, elementos que reforçam a contemporaneidade de um trabalho artístico que não nega o seu tempo – o hoje, mas não descura a sua história, que é o que lhe pode revestir de sentido. Neste todo que compõe a exposição, há espaço para obras mais referentes, como Água de alfarroba e mais delirantemente líricas, como O Mergulho. Há espaço para o espaço à volta de cada trabalho, que como o silêncio, é também significante. Um espaço vazio, numa exposição de Pedro Cabral Santo, é um vir-a-ser que liga os objetos entre si e que se conjugam para (com)formar um todo. Omnia é um todo/tudo inalcançável, como o amor impossível de Gertrud – que só existe em potência e, ao se tornar gesto, perde o poder de permanecer, pois só existe onde não está.
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