Links

O ESTADO DA ARTE


Cildo Meireles, Marulho, 1981/ 1997.

Outros artigos:

2024-04-23


ÁLBUM DE FAMÍLIA – UMA RECORDAÇÃO DE MARIA DA GRAÇA CARMONA E COSTA
 

2024-03-09


CAMINHOS NATURAIS DA ARTIFICIALIZAÇÃO: CUIDAR A MANIPULAÇÃO E ESMIUÇAR HÍPER OBJETOS DA BIO ARTE
 

2024-01-31


CRAGG ERECTUS
 

2023-12-27


MAC/CCB: O MUSEU DAS NOSSAS VIDAS
 

2023-11-25


'PRATICAR AS MÃOS É PRATICAR AS IDEIAS', OU O QUE É ISTO DO DESENHO? (AINDA)
 

2023-10-13


FOMOS AO MUSEU REAL DE BELAS ARTES DE ANTUÉRPIA
 

2023-09-12


VOYEURISMO MUSEOLÓGICO: UMA VISITA AO DEPOT NO MUSEU BOIJMANS VAN BEUNINGEN, EM ROTERDÃO
 

2023-08-10


TEHCHING HSIEH: HOW DO I EXPLAIN LIFE AND CHANGE IT INTO ART?
 

2023-07-10


BIENAL DE FOTOGRAFIA DO PORTO: REABILITAR A EMPATIA COMO UMA TECNOLOGIA DO OUTRO
 

2023-06-03


ARCOLISBOA, UMA FEIRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM PERSPETIVA
 

2023-05-02


SOBRE A FOTOGRAFIA: POIVERT E SMITH
 

2023-03-24


ARTE CONTEMPORÂNEA E INFÂNCIA
 

2023-02-16


QUAL É O CINEMA QUE MORRE COM GODARD?
 

2023-01-20


TECNOLOGIAS MILLENIALS E PÚBLICO CONTEMPORÂNEO. REFLEXÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO 'OCUPAÇÃO XILOGRÁFICA' NO SESC BIRIGUI EM SÃO PAULO
 

2022-12-20


VENEZA E A CELEBRAÇÃO DO AMOR
 

2022-11-17


FALAR DE DESENHO: TÃO DEPRESSA SE COMEÇA, COMO ACABA, COMO VOLTA A COMEÇAR
 

2022-10-07


ARTISTA COMO MEDIADOR. PRÁTICAS HORIZONTAIS NA ARTE E EDUCAÇÃO NO BRASIL
 

2022-08-29


19 DE AGOSTO, DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA
 

2022-07-31


A CULTURA NÃO ESTÁ FORA DA GUERRA, É UM CAMPO DE BATALHA
 

2022-06-30


ARTE DIGITAL E CIRCUITOS ONLINE
 

2022-05-29


MULHERES, VAMPIROS E OUTRAS CRIATURAS QUE REINAM
 

2022-04-29


EGÍDIO ÁLVARO (1937-2020). ‘LEMBRAR O FUTURO: ARQUIVO DE PERFORMANCES’
 

2022-03-27


PRATICA ARTÍSTICA TRANSDISCIPLINAR: A INVESTIGAÇÃO NAS ARTES
 

2022-02-26


OS HÁBITOS CULTURAIS… DAS ORGANIZAÇÕES CULTURAIS PORTUGUESAS
 

2022-01-27


ESPERANÇA SIGNIFICA MAIS DO QUE OPTIMISMO
 

2021-12-26


ESCOLA DE PROCRASTINAÇÃO, UM ESTUDO
 

2021-11-26


ARTE = CAPITAL
 

2021-10-30


MARLENE DUMAS ENTRE IMPRESSIONISTAS, ROMÂNTICOS E SUMÉRIOS
 

2021-09-25


'A QUE SOA O SISTEMA QUANDO LHE DAMOS OUVIDOS'
 

2021-08-16


MULHERES ARTISTAS: O PARADOXO PORTUGUÊS
 

2021-06-29


VIVER NUMA REALIDADE PÓS-HUMANA: CIÊNCIA, ARTE E ‘OUTRAMENTOS’
 

2021-05-24


FRESTAS, UMA TRIENAL PROJETADA EM COLETIVIDADE. ENTREVISTA COM DIANE LINA E BEATRIZ LEMOS
 

2021-04-23


30 ANOS DO KW
 

2021-03-06


A QUESTÃO INDÍGENA NA ARTE. UM CAMINHO A PERCORRER
 

2021-01-30


DUAS EXPOSIÇÕES NO PORTO E MUITOS ARQUIVOS SOBRE A CIDADE
 

2020-12-29


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO - PARTE II
 

2020-11-29


11ª BIENAL DE BERLIM
 

2020-10-27


CRITICAL ZONES - OBSERVATORIES FOR EARTHLY POLITICS
 

2020-09-29


NICOLE BRENEZ - CINEMA REVISITED
 

2020-08-26


MENSAGENS REVOLUCIONÁRIAS DE UM TEMPO PERDIDO
 

2020-07-16


LIÇÕES DE MARINA ABRAMOVIC
 

2020-06-10


FRAGMENTOS DO PARAÍSO
 

2020-05-11


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO
 

2020-04-24


QUE MUSEUS DEPOIS DA PANDEMIA?
 

2020-03-24


FUCKIN’ GLOBO 2020 NAS ZONAS DE DESCONFORTO
 

2020-02-21


ELECTRIC: UMA EXPOSIÇÃO DE REALIDADE VIRTUAL NO MUSEU DE SERRALVES
 

2020-01-07


SEMANA DE ARTE DE MIAMI VIA ART BASEL MIAMI BEACH: UMA EXPERIÊNCIA MAIS OU MENOS ESTÉTICA
 

2019-11-12


36º PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
 

2019-10-06


PARAÍSO PERDIDO
 

2019-08-22


VIVER E MORRER À LUZ DAS VELAS
 

2019-07-15


NO MODELO NEGRO, O OLHAR DO ARTISTA BRANCO
 

2019-04-16


MICHAEL BIBERSTEIN: A ARTE E A ETERNIDADE!
 

2019-03-14


JOSÉ MAÇÃS DE CARVALHO – O JOGO DO INDIZÍVEL
 

2019-02-08


A IDENTIDADE ENTRE SEXO E PODER
 

2018-12-20


@MIAMIARTWEEK - O FUTURO AGENDADO NO ÉDEN DA ARTE CONTEMPORÂNEA
 

2018-11-17


EDUCAÇÃO SENTIMENTAL. A COLEÇÃO PINTO DA FONSECA
 

2018-10-09


PARTILHAMOS DA CRÍTICA À CENSURA, MAS PARTILHAMOS DA FALTA DE APOIO ÀS ARTES?
 

2018-09-06


O VIGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA BIENAL DE BERLIM
 

2018-07-29


VISÕES DE UMA ESPANHA EXPANDIDA
 

2018-06-24


O OLHO DO FOTÓGRAFO TAMBÉM SOFRE DE CONJUNTIVITE, (UMA CONVERSA EM TORNO DO PROJECTO SPECTRUM)
 

2018-05-22


SP-ARTE/2018 E A DIFÍCIL TAREFA DE ESCOLHER O QUE VER
 

2018-04-12


NO CORAÇÂO DESTA TERRA
 

2018-03-09


ÁLVARO LAPA: NO TEMPO TODO
 

2018-02-08


SFMOMA SAN FRANCISCO MUSEUM OF MODERN ART: NARRATIVA DA CONTEMPORANEIDADE
 

2017-12-20


OS ARQUIVOS DA CARNE: TINO SEHGAL CONSTRUCTED SITUATIONS
 

2017-11-14


DA NATUREZA COLABORATIVA DA DANÇA E DO SEU ENSINO
 

2017-10-14


ARTE PARA TEMPOS INSTÁVEIS
 

2017-09-03


INSTAGRAM: CRIAÇÃO E O DISCURSO VIRTUAL – “TO BE, OR NOT TO BE” – O CASO DE CINDY SHERMAN
 

2017-07-26


CONDO: UM NOVO CONCEITO CONCORRENTE À TRADICIONAL FEIRA DE ARTE?
 

2017-06-30


"LEARNING FROM CAPITALISM"
 

2017-06-06


110.5 UM, 110.5 DOIS, 110.5 MILHÕES DE DÓLARES,… VENDIDO!
 

2017-05-18


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 2: "UMA HISTÓRIA DA VISÃO E DA CEGUEIRA"
 

2017-04-26


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 1: «O REAL É SEMPRE AQUILO QUE NÃO ESPERÁVAMOS»
 

2017-03-29


ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO CONTEMPORÂNEO DE FEIRA DE ARTE
 

2017-02-20


SOBRE AS TENDÊNCIAS DA ARTE ACTUAL EM ANGOLA: DA CRIAÇÃO AOS NOVOS CANAIS DE LEGITIMAÇÃO
 

2017-01-07


ARTLAND VERSUS DISNEYLAND
 

2016-12-15


VALORES DA ARTE CONTEMPORÂNEA: UMA CONVERSA COM JOSÉ CARLOS PEREIRA SOBRE A PUBLICAÇÃO DE O VALOR DA ARTE
 

2016-11-05


O VAZIO APOCALÍPTICO
 

2016-09-30


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 2
 

2016-08-25


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 1
 

2016-06-24


COLECCIONADORES NA ARCO LISBOA
 

2016-05-17


SONNABEND EM PORTUGAL
 

2016-04-18


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (II)
 

2016-03-15


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (I)
 

2016-02-11


FERNANDO AGUIAR: UM ARQUIVO POÉTICO
 

2016-01-06


JANEIRO 2016: SER COLECCIONADOR É…
 

2015-11-28


O FUTURO DOS MUSEUS VISTO DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
 

2015-10-28


O FUTURO SEGUNDO CANDJA CANDJA
 

2015-09-17


PORQUE É QUE OS BLOCKBUSTERS DE MODA SÃO MAIS POPULARES QUE AS EXPOSIÇÕES DE ARTE, E O QUE É QUE PODEMOS DIZER SOBRE ISSO?
 

2015-08-18


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 2
 

2015-07-29


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 1
 

2015-06-06


O DESAFINADO RONDÒ ENWEZORIANO. “ALL THE WORLD´S FUTURES” - 56ª EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE ARTE DE VENEZA
 

2015-05-13


A 56ª BIENAL DE VENEZA DE OKWUI ENWEZOR É SOMBRIA, TRISTE E FEIA
 

2015-04-08


A TUMULTUOSA FERTILIDADE DO HORIZONTE
 

2015-03-04


OS MUSEUS, A CRISE E COMO SAIR DELA
 

2015-02-09


GUIDO GUIDI: CARLO SCARPA. TÚMULO BRION
 

2015-01-13


IDEIAS CAPITAIS? OLHANDO EM FRENTE PARA A BIENAL DE VENEZA
 

2014-12-02


FUNDAÇÃO LOUIS VUITTON
 

2014-10-21


UM CONTEMPORÂNEO ENTRE-SERRAS
 

2014-09-22


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro - Parte II
 

2014-09-03


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro – Parte I
 

2014-07-16


ARTISTS' FILM BIENNIAL
 

2014-06-18


PARA UMA INGENUIDADE VOLUNTÁRIA: ERNESTO DE SOUSA E A ARTE POPULAR
 

2014-05-16


AI WEIWEI E A DESTRUIÇÃO DA ARTE
 

2014-04-17


QUAL É A UTILIDADE? MUSEUS ASSUMEM PRÁTICA SOCIAL
 

2014-03-13


A ECONOMIA DOS MUSEUS E DOS PARQUES TEMÁTICOS, NA AMÉRICA E NA “VELHA EUROPA”
 

2014-02-13


É LEGAL? ARTISTA FINALMENTE BATE FOTÓGRAFO
 

2014-01-06


CHOICES
 

2013-09-24


PAIXÃO, FICÇÃO E DINHEIRO SEGUNDO ALAIN BADIOU
 

2013-08-13


VENEZA OU A GEOPOLÍTICA DA ARTE
 

2013-07-10


O BOOM ATUAL DOS NEGÓCIOS DE ARTE NO BRASIL
 

2013-05-06


TRABALHAR EM ARTE
 

2013-03-11


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (III)
 

2013-02-12


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (II)
 

2013-01-07


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS. META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (I)
 

2012-11-12


ATENÇÃO: RISCO DE AMNÉSIA
 

2012-10-07


MANIFESTO PARA O DESIGN PORTUGUÊS
 

2012-06-12


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (II)


 

2012-05-16


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (I)
 

2012-02-06


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (III - conclusão)
 

2012-01-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (II)
 

2011-12-07


PARAR E PENSAR...NO MUNDO DA ARTE
 

2011-04-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (I)
 

2010-10-29


O BURACO NEGRO
 

2010-04-13


MUSEUS PÚBLICOS, DOMÍNIO PRIVADO?
 

2010-03-11


MUSEUS – UMA ESTRATÉGIA, ENFIM
 

2009-11-11


UMA NOVA MINISTRA
 

2009-04-17


A SÍNDROME DOS COCHES
 

2009-02-17


O FOLHETIM DE VENEZA
 

2008-11-25


VANITAS
 

2008-09-15


GOSTO E OSTENTAÇÃO
 

2008-08-05


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO II – O DISCURSO NO PODER
 

2008-06-30


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO I
 

2008-05-21


ARTE DO ESTADO?
 

2008-04-17


A GULBENKIAN, “EM REMODELAÇÃO”
 

2008-03-24


O QUE FAZ CORRER SERRALVES?
 

2008-02-20


UM MINISTRO, ÓBICES E POSSIBILIDADES
 

2008-01-21


DEZ PONTOS SOBRE O MUSEU BERARDO
 

2007-12-17


O NEGÓCIO DO HERMITAGE
 

2007-11-15


ICONOLOGIA OFICIAL
 

2007-10-15


O CASO MNAA OU O SERVILISMO EXEMPLAR
 

PAIXÃO, FICÇÃO E DINHEIRO SEGUNDO ALAIN BADIOU

ALAIN BADIOU

2013-09-24




O dinheiro foi bem definido por Marx como um equivalente geral. O dinheiro é equivalente a qualquer outra coisa. Isto é o que faz com que exista a paixão pelo dinheiro. Essa paixão pelo dinheiro substitui a paixão por todas as coisas que desejamos. É como se o dinheiro se pusesse diante das coisas que queremos e fosse o meio para satisfazer qualquer desejo.

O amor ao dinheiro é também uma paixão por um objeto de desejo que não está realmente definida, é algo que aparece como um desejo vago, um desejo geral e para chamá-lo de alguma forma: um desejo “infinito”. Esta é a razão pela qual o dinheiro funciona como um substituto.

Isto origina necessariamente violência porque esse desejo indeterminado, que é ao mesmo tempo absoluto e geral, é um desejo que conduz a um regime de concorrência. A sociedade tem outras coisas, simultaneamente e de um modo necessário, é regulada pela concorrência. O dinheiro é o que organiza a violência da competição. Por quê? Naturalmente, entre a violência que reina entre os seres humanos e o dinheiro, há uma conexão direta. Afinal de contas, desde sempre, matamos principalmente por dinheiro.

A linguagem do dinheiro pretende não ter limites, essa é a razão pela qual é uma linguagem doida. É uma linguagem que apresenta um mundo que carece de limites, um mundo de desejos ilimitados. Na verdade, o dinheiro chama dinheiro. O dinheiro é algo que sempre exige mais dinheiro. Por esta razão, os ricos nunca são suficientemente ricos. É certo: os ricos nunca são suficientemente ricos, porque não se trata de ter dinheiro, eles querem “mais dinheiro”, e este é um desejo sem fim. E sendo um desejo ilimitado, poderíamos dizer que, na realidade, não constrói um mundo real. Há uma razão para dizer que o limite de uma linguagem é igualmente o limite do mundo e se a linguagem pretende não ter limites então é como se o mundo também não os tivesse: então o mundo funde-se como mundo, desfaz-se. Em suma, a paixão pelo dinheiro é uma paixão abstrata, não uma paixão que visa alcançar algo concreto. E isto também está na origem do problema.

No mundo capitalista, as ficções dominantes são aquelas que de uma forma ou de outra estão relacionadas com o domínio do dinheiro. Estas ficções são construídas em torno da questão do desejo ilimitado e da concorrência. Elas dizem-nos como o dinheiro desencadeia paixões, crimes, a possibilidade do amor, a traição, e assim por diante. São as paixões de um desejo ilimitado. Penso que se queremos regressar a mundo verdadeiro, o que implica admitir os limites da linguagem e que saibamos usar a ficção ao serviço da verdade e não ao serviço do desejo ilimitado, então precisamos de mudar a ficção, isso é certo.

Necessitamos de mudar a ficção, isso é algo muito importante. É importante e diria que poderia ser o grande desafio dos artistas contemporâneos. A responsabilidade dos artistas contemporâneos é a de propor uma nova ficção. Não é fácil porque ao princípio as novas ficções não são reconhecíveis. Elas são estranhas num mundo dominado pela concorrência e pelo dinheiro. A criação de novas formas de ficção e de novos modos de criar ficção é de extrema importância.

É fundamental que a relação entre as pessoas não ocorra dentro de um modelo competitivo. Esse é o primeiro ponto. Por que não no modelo competitivo? É claro que é necessário estar inserido no modelo de dinheiro que está atualmente em circulação. Então, como poderia haver uma relação não-competitiva entre os homens e entre o homem e a mulher? Obviamente, existe o “amor”, mas poderia ser um pouco violento como solução, porque não podemos amar absolutamente. É verdade que a religião diz: “Amai-vos uns aos outros como a ti mesmo”, mas isso é um pouco difícil se tomamos o amor num sentido profundo. Penso que precisamos de deixar o “amor” com o seu significado excecional, o seu significado relacionado com uma verdade profunda que é partilhada entre duas pessoas. Pelo contrário, eu acho que podemos ter relações a que chamaria amigáveis; uma relação de amizade que não é exatamente a da paixão amorosa, mas que é uma relação que permite que o outro se aproxime, comparta, e que não esteja imediatamente dominada pelo juízo, a condenação e a competição. Proponho um certo tipo de amizade universal.

Penso que uma maneira diferente de regular o comércio, e que seria uma alternativa à atual, pode ser imaginada. Em particular, há muitas possibilidades de intercâmbio direto de objetos bens, etc. que são abandonados. Esta é uma sociedade de enorme desperdício. Já que a posse de objetos é sempre privada isso supõe um desperdício colossal. Na verdade, o número de coisas que uma pessoa acumula e nunca usa é enorme. Isso preocupa-nos a todos. Eu mesmo poderia dar ou doar as minhas coisas a alguém ou fazer outra coisa. A sociedade não só regula as trocas e a competição pelo dinheiro, mas também organiza o desperdício. O que é necessário é uma organização amigável das trocas, que seriam realizadas de outra forma. Claro que se eu tivesse uma ideia completa e definitiva sobre isso já a teria anunciado. Trata-se de uma questão muito difícil, muito delicada que levaria muito tempo. No entanto, estou convencido de que o intercâmbio desenvolvido e entendido de um modo massivo – um intercâmbio não monetário – seja possível. Sociedades inteiras praticaram trocas não monetárias. Eram menores do que a nossa, tudo bem, mas nós poderíamos certamente resolver os problemas de organização dos intercâmbios não-monetários a larga escala.

Existem projetos utópicos de moedas provisórias, úteis num determinado momento e que não podem ser acumuladas. Estas moedas servem somente para esse intercâmbio mas não podem existir no capitalismo porque não são capitalizáveis. É verdade, mas já que hoje a capitalização ocorre através de um simples clique de computadores, o desaparecimento da moeda não iria resolver o nosso problema. A memória do computador teria também que desaparecer.

A Internet é um meio técnico que pode servir para fazer o bem ou o mal, por si só não decide nada. A Internet é algo que já está a repetir massivamente as ditaduras baseadas no comércio financeiro, mas também é útil para a comunicação entre as pessoas, para manifestações políticas, etc. Serve para tudo, e eu acho que nós poderíamos, e realmente deveríamos, tirar proveito dos seus pontos fortes. Mas a Internet não vai dizer-nos como fazê-lo, somos nós que devemos criar esses mecanismos.

Neste momento as organizações internacionais estão condicionadas por uma visão dominante que não é outra senão a do poder. Não têm um programa realmente ditado por uma nova visão de mundo. Os programas existentes são programas de caridade – é o que são –, há uma ligeira redistribuição das necessidades vitais dos pobres. Esta tem sido sempre uma parte do capitalismo, a caridade capitalista. No século XIX existia a senhora burguesa que dava coisas aos pobres. Naquela época isso sustentava-se na religião, agora temos organizações internacionais, mas sempre se tratou mais ou menos do mesmo.

Penso que podemos reconstruir um mundo onde a paixão e a felicidade são orientadas para a verdade. Especialmente para a conceção que proponho de verdade. A verdade é aquilo que somos capazes de criar, de inventar. Assim, possa ser essa a paixão da humanidade: a invenção, a criação e o partilhar a criação. Espero que seja possível. Muito mais do que a paixão pela acumulação e pela competição. Por que é que as más paixões são mais importantes do que as boas? Não há resposta para isso. A sociedade está organizada em torno do dinheiro e da competição. Se estivesse organizada de outra forma, veríamos – é algo que já podemos ver em círculos mais pequenos e em pequenas sociedades – como a criação, a invenção, poderiam ser coisas mais importantes e mais felizes.


Original: OCCIDENTE: TESTIMONIOS, VISIONES y UTOPÍA, em occidentetv.com
Via: salonkritik.net/10-11/2013/08/la_pasion_ficcional_del_dinero.php#more