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VALTER VINAGRE

LIZ VAHIA E VICTOR PINTO DA FONSECA


 

 

“A minha percepção das coisas visa não tanto a representação da realidade, mas a realidade da representação”, afirma Valter Vinagre, em jeito de reflexão sobre a sua prática fotográfica.
Estudou fotografia no AR.CO entre 1986 e 1989 e iniciou o seu percurso artístico nessa época. Em 2016 o seu trabalho “Posto de trabalho” recebeu o prémio Autores da Sociedade Portuguesa de Autores para o Melhor Trabalho de Fotografia. Em Setembro próximo lança o livro “Sob o Signo da Lua”, onde reúne imagens recolhidas durante mais de uma década no Boom Festival. Tomando como mote este evento, a Artecapital falou com o fotógrafo sobre os seus projectos mais recentes, passando pelos processos de trabalho e interesses gastronómicos.


Por Liz Vahia e Victor Pinto da Fonseca

 


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LV: No rescaldo de mais uma edição do Boom Festival, recebemos a notícia do teu livro, “Sob o signo da lua”, que será lançado em Setembro próximo. Nele reúnes fotografias desse festival, num registo que parece resultante de um método quase etnográfico. Podes explicar-nos como foi o teu percurso neste projecto, desde o teu interesse pelo festival até à edição das imagens captadas?

VV: O meu interesse por este festival em particular adveio de uma informação que me foi dada em finais dos anos 90. Nessa altura estava a preparar o livro e a exposição “Cá na Terra” e alguém me falou num festival “alternativo” que tinha por base musical o Goa Transe, que misturava a música com o ciclo lunar. Foi esta sua génese que me levou a ir nas primeiras edições que se realizaram na Herdade do Zambujal em Águas de Moura, sem câmara fotográfica, para tentar perceber o que se passava e que enquadramento poderia vir a ter no meu trabalho. Comecei a fotografar na edição de 2002 na Barragem Marechal Carmona, em Idanha-a-Nova. Só terminei a minha pesquisa na edição de 2016.
O meu eixo de trabalho foi um cruzamento documental em relação ao espaço, o retrato dos seus “habitantes”, a sua relação com a música e as suas vivências num ambiente de liberdade, respeito e uma certa harmonia. Foi uma viagem solitária, para tentar uma resposta a algo muito simples: o que leva a que alguém regresse edição após edição a um local em que quase tudo muda. Pessoalmente, o que me levou a ir edição após edição foi o espectro pagão da festa.


VPF: Muitos dos teus trabalhos caracterizam o submundo de uma sociedade oprimida, rebaixada, revelam uma imagem visual anti-conformista, e uma admirável capacidade de percepção natural para o marginal; estou a referir-me por exemplo a projecto "Posto de trabalho" (2015): no entanto, o próprio Boom Festival significa em determinados contextos um festival underground, mas neste caso com uma conotação espiritual!
Consideras que os trabalhos que referi têm uma conotação "Beat" onde procuras inspiração à semelhança do que fazia o Kerouac e o Ginsberg?

VV: A minha relação com o “Beat” é, em consciência, tardia! Quando os li e discuti já tinha muitos quilómetros nas botas. A minha inspiração, os meus esteios estão mais no Mário Sá-Carneiro, no Torga, no Leo Ferré, no Tarkovski, no Sartre e na Simone Beauvoir, na Hélia Correia, na Marguerite Yourcenar, no O’Neill, no Eduardo Lourenço, no Jean Genet, no Faulkner, na Sophia M.B.Andresen, no Camus, no Marx, Lenine, Hegel ou na Marta Harnecker. Mas é, sobretudo, nos escritores e pensadores portugueses que me apoio. Sempre tomei o país como “laboratório” e território de trabalho. Mais de 90 por cento do que produzo é realizado dentro de Portugal.
Toda a minha vida infantil e de juventude foi vivida numa sociedade opressora e castradora. Todo o meu inconformismo, toda a minha luta foi dirigida contra isso. Vivi o fascismo, mas tive a alegria de participar na sua queda. Estava na Marinha de Guerra Portuguesa onde abracei o programa do MFA – Movimento das Forças Armadas - até ao 25 de Novembro de 1975.


LV: A relação entre o humano e o entorno natural é um tema muito presente no teu trabalho. Neste teu projecto “Posto de Trabalho” mostram-se matas povoadas de pequenos focos ocultos de degradação, humana e material, numa relação quase simbiótica entre os dois universos. Esta é uma questão que conscientemente procuras abordar ou deriva, mais uma vez, dessa tua forma de observação atenta e abrangente que subsiste ao teu modo de trabalhar?

VV: O projecto “Posto de trabalho”, tal como os trabalhos que deram lugar àquilo que chamo de triologia da dor ( OLHA, PARA, CARTA DO SENTIR), são projectos em que o foco está virado para a violência na sociedade contemporânea. É uma abordagem consciente e perfeitamente enquadrada na minha maneira de trabalhar. Não me interessa a aparência da realidade. Interessa-me, sim, a realidade dessa aparência. Tento estar atento e dar resposta às questões que se me colocam de um ponto de vista social e político.


LV: Nestes dois projectos, “Sob o signo da lua” e “Posto de Trabalho”, a iluminação focal introduz um carácter fantasmagórico a esses espaços e situações captadas. Como é que começaste a querer desenvolver este tipo de imagem?

VV: Como disse, não é a aparência da realidade que me interessa. Esta consciência, enquanto fotógrafo e artista, tornou-se mais clara e premente quando dei resposta à minha inquietação do porquê de continuar a fotografar e como. Não foi algo do tipo – “Uau! E agora?” Nada disso. Foi uma pergunta que se foi insinuando, corroendo as tuas “certezas” assim: “O que te leva a quereres continuar a fotografar? O que é que esta ferramenta te pode dar? De que forma pode contribuir para a tua análise da sociedade? Na procura a essas questões, escrevi em jeito de resposta a mim mesmo este texto: “Depois da representação do homem nos seus espaços, onde se vislumbra a objectiva já virada para os vestígios, ou as marcas, dos seus comportamentos através da presença dos corpos, a minha percepção das coisas visa não tanto a representação da realidade, mas a realidade da representação. Não se trata apenas de um trocadilho, ou jogo de palavra gratuito, é precisamente a percepção do spectrum, isto é, uma emanação do objecto fotografado que procuro colocar em cena por si próprio. A história da fotografia fala-nos de um retrato fiel da realidade. Foi assim que a fotografia ficou condenada a este rótulo incongruente: a fotografia mostra a realidade. Contudo não esqueço que a primeira manipulação fotográfica foi a própria primeira fotografia, dado que delimitou um espaço na representação do real atingindo profundamente a realidade e o que percebemos como sendo realidade. Procuro dar a ver, com um olhar despojado de contundências, de redundâncias, sem mitos, nem alienação, simplesmente o que se nos apresenta como uma evidência. Se a fotografia se tornou indissociável daquilo que representa, apesar do trabalho de muitos fotógrafos (como Weston) no sentido de dissociar uma coisa da outra dando maior importância ao espaço, o meu foco é esse espaço predominante, já que vivemos num tempo sem tempo. Importa, não tanto a superfície de todas as coisas, não tanto o que reflecte a realidade por fora, não tanto o manto opaco da aparência, mas a falha no manto. Dar a ver por dentro, aí no ponto de tensão mais denso, o ponto de enfoque que vai imiscuir-se na falha da representação, esta encenação da imagem.”
Se antes utilizava o flash para preenchimento de sombras ou para dar um maior enfoque no primeiro plano, passei a utilizá-lo para dar outra leitura a essa aparência do real. Para dar enfoque no importante e deixar no escuro ou na penumbra o que distrai.


VPF: Para além de seres fotógrafo, tens uma personalidade gastronómica (bem identificável para quem te conhece), que eleva a tua sensibilidade sociocultural a um nível particular que pessoalmente muito admiro. 
Podes falar-nos um pouco desta tua personalidade não-pública e fazer um par de sugestões de restaurantes e vinhos para os leitores da artecapital?!

VV: Cozinhar é uma das minhas paixões. No Verão, venham os grelhados no carvão e as caldeiradas (cozinha de tacho). No restante do ano, continuo a cozinhar na grelha e no tacho, mas a minha mão vai mais para o fogão (carnes e peixes). Nos doces só me aventuro no Arroz doce e, de quando em quando, uns patés. Comecei a cozinhar teria uns 10 anos. Lá em casa quem cozinhava estava de cama com aquilo a que hoje se dá o nome de virose! Lembro-me como se fosse hoje! Cozinhei uma sopa de feijão na panela de ferro ao lume (ainda não tínhamos fogão a gás). As instruções vinham do quarto do fundo dadas pela minha mãe e pela minha avó que dela se ocupava. A partir daí, por obrigação ou por puro deleite, não mais parei.

A escolhas pessoais são-no por muitas e variadas razões. Existem restaurantes e vinhos aos quais não resisto e volto sempre que tenho oportunidade. Questões de qualidade e de amizade.

Em Valença – Casa Álvaro. Em Amarante – Restaurante Lusitana. No Porto – Casa Nanda. Na Costa Nova, Aveiro – Peixe na Costa. Em Avelãs de Caminho – Casa Queiroz. Em Pombal - Manjar do Marquês. Em Caldas da Rainha – Casa Antero. Em Azueira (Estrada que liga Malveira a Torres Vedras) – A Charrua. Em Castelo Branco - O Carlos. Em Senhora da Graça, Idanha-a-Nova - Na minha casa. Acesso muito restrito!. Nas Azenhas do Mar – Adega das Azenhas. Na Praia da Adraga, Sintra – Restaurante da Adraga. Em Cascais – O Pescador. Em Lisboa – Casa Cid. Em Setúbal – Restaurante O Manel. Em Évora – O Fialho. Em Beja – Adega Típica 25 de Abril. Em Tavira ( Santa Luzia) – O Alcatruz. E por aqui me fico nas informações para comensais.
Nos vinhos, a escolha vai para as minhas regiões de eleição e uns tantos outros.

Bairrada.
Bussaco Palace (tinto e branco).
Quinta das Bágeiras: tintos: Garrafeira, Pai Abel,Colheita. Brancos: Pai Abel, Avô Fausto Espumante: Super Reserva, Bruto Natural Rosé. Aguardente:Aguardente vínica velha.
Caves S.João, Tintos: Caves S.João Reserva, Porta dos Cavaleiros, Frei João, Quinta do Poço do Lobo Reserva. Brancos: Quinta do Poço do Lobo Reserva, Frei João Clássico. Espumantes: Quinta do Poço do Lobo, Luiz Costa, S. João Reserva. Aguardente: Caves S. João Velhíssima, de 1966.
Campolargo: Tintos – Vinha do Puto, Rol de Coisas Antigas, Termeão – Pássaro vermelho, Campo Largo CC, Vinha da Costa e Diga?. Brancos - Bical, Campolargo (Cercial). Espumante: Bruto Rosé, Pinot Noir, Borga e o Cercial.

No Dão, Região Vinho Verde, Alentejo, Douro e Tejo, a minha escolha recai em vinhos de produção Biológica e biodinâmica.

Casa de Mouraz (Dão): Tintos – Casa de Mouraz, Casa de Mouraz, Private selection, Elfa. Brancos – Casa de Mouraz, Casa de Mouraz – Encruzado.
Douro: António Lopes Ribeiro, tinto.
Alentejo: António Lopes Ribeiro – Sobreiro 2011, AIR - António Lopes Ribeiro 2012
Verde – AIR _ António Lopes Ribeiro 2012 e Antonio Lopes Ribeiro DOC 2015

Vinhos do Tejo e Lisboa: Casal Figueira- Vinhas Velhas, Branco 2016, António 2015 (branco) Casal Figueira (Tinto).

Chegará? Não.