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ARQUITETURA E DESIGN




Vista da exposição. Fotografia: Constança Babo


Vista da exposição. Fotografia: Constança Babo


Vista da exposição. Fotografia: Constança Babo


Vista da exposição. Fotografia: Constança Babo


Vista da exposição. Fotografia: Constança Babo


Vista da exposição. Fotografia: Constança Babo


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CONSTANÇA BABO


18/12/2017 

 

 

Andreia Garcia, arquiteta de formação, tem vindo a afirmar-se na área da curadoria, no panorama artístico portuense, através de intervenções que aproximam as áreas da arte e da arquitetura e sugerem uma reflexão sobre a relação entre ambas. Na procura de realizar este exercício numa dinâmica de proximidade com o espetador, a curadora tende a conceber as exposições em espaços públicos, tal sendo o caso das duas ocasiões na Galeria Vertical do Silo Auto do Porto. A mais recente, e patente desde o dia 17 de novembro, poderá destacar-se como a mais interativa, inclusivamente quando comparada às restantes anteriormente realizadas neste mesmo espaço. As obras que se apresentam são, na sua grande maioria, passíveis de apropriação por parte do público, tanto pelo mais instruído na arte e na cultura como pelo habitual transeunte deste local de passagem.

Tal como Endless Space: Prepositions of the Continuous, a primeira exposição de Andreia Garcia no Silo Auto, terminada a 29 de outubro, a atual intervenção é colectiva, constituindo um todo harmonioso, mas revelando em cada patamar um diferente palco e artista. Porém, no lugar de uma ideia de continuidade, a exposição apela à repetição, o que ocorre muito frequentemente na arquitetura em diferentes escalas e contextos, desde o processo de concepção à construção e, consequentemente, à experiência espacial.

Na primeira obra exposta, no piso 1, por exemplo, observa-se o resultado da repetição de um mesmo movimento na construção de vários elementos. Sem título - desenho, da autoria de Bruno Cidra, é uma obra composta por peças de ferro, papel, latão e corda que, à primeira vista, parecem abandonadas sem que qualquer função lhes tenha sido atribuída. O espectador é questionado em relação ao que é a natureza dos materiais de construção de edifícios e de produção artística.

No piso seguinte, desta vez exibindo-se nitidamente como uma intervenção artística, encontra-se a obra de Os Espacialistas. Este grupo que habitualmente já se coloca no lugar de quem explora o território híbrido entre a arte e a arquitetura é, sem dúvida, uma escolha acertada para esta exposição. O seu assumido objetivo de relacionar-se com o espetador e de lhe proporcionar momentos de atividade e de experiência é notório em Corpo Móvel, uma das obras mais interativas da exposição. Os objetos, na sua grande maioria sólidos geométricos de madeira, reproduzem-se e multiplicam-se de acordo com as inúmeras formas que os artistas verificaram repetir-se ao longo do próprio edifício.

A repetição de elementos continua, no piso 3, desta vez duplicada, materializada na forma de dois estores instalados lado a lado. Objetos do comum, utilizados nos acabamentos de inúmeras infraestruturas e estabelecimentos, são, eles próprios, compostos pela junção de várias peças idênticas. Contudo, o que dificilmente se repete na obra Blinds e Blinds #2 e que determina a sua qualidade estética, são as possibilidades formais e visuais. Através da inerente função de manipulação dos estores, o público tem ao seu dispor este dispositivo para alcançar diversas experiências visuais. Para tal, também contribui a intervenção pictórica que a autora, Inês Teles, realizou sobre os objetos, utilizando-os como suportes numa ação de ready-made que desafia a natureza da pintura, tradicional prática artística, e a noção do que pode, ou não, ser arte.

Também numa forma de criação artística a partir de objetos do quotidiano, revela-se Unless (Rythm of Twenty), com réguas de luz, elementos particularmente utilizados na arquitetura, mas que surgem recorrentemente na produção artística, desde o minimalista dos anos 60, Dan Flavin. Porém, neste caso, destaca-se uma certa invulgaridade e personalidade artística própria, pois, não só a estrutura basilar deste tríptico luminoso parte dos pilares cruciforme do Pavilhão de Barcelona, de Mies van der Rohe, como revela diferenças entre cada um dos três elementos. O autor da obra, Nuno Pimenta, evoca os processos de construção, de adição e subtração, tanto nos projetos artísticos como na arquitetura e, em última instância, na evolução e história de ambas as áreas.

Os processos de concepção e produção artística, a fase de pesquisa e o que nestes se repete, ou não, são, pois, determinantes. Para João Araújo e Rita Huet é, precisamente, na repetição da imagem fotográfica durante o momento de impressão da mesma, que se encontra o mais relevante, o erro. Neste processo de construção imagética as reproduções surgem, muitas vezes, como únicas, individuais e irrepetíveis. Em Additive Subtractions observa-se a relação entre o momento da criação artística e o seguinte, relativo ao seu processo de produção tecnológico. O resultado imagético que se apresenta está desfocado na justa medida, desafiando o olhar do espectador e habitando por completo a parede em que é exposto.

A valorização do processo criativo e produtivo pode realizar-se de outro modo, como se verifica através da mão de Ana Vidigal. É pela união, justaposição e composição de rolos de projetos de arquitetura, elementos da etapa processual, que surge uma obra tão clara no seu conceito como no título com que se apresenta, Projeto para Memória Descritiva. Esta magnífica peça cria um jogo de formas e texturas entre luzes e sombras, que cativa o espetador, convidando-o a uma observação atenta e a predispor-se a uma intensa experiência estética.

Por último, no sétimo piso, expressando movimento, passagem e ação, encontra-se um tríptico assinado por André Cepeda. Reconhecido como um dos grandes fotógrafos contemporâneos portugueses, marca esta exposição através de uma técnica de arrastamento densificada pelo papel Awagami, sobre o qual assenta. Desde as formas visuais exibidas, conseguidas através da repetição de três capturas fotográficas do mesmo espaço em Brooklyn, até à escolha cromática e qualidade da impressão, a obra Forma #7 destaca-se com uma grande qualidade formal e técnica, apenas superada pela dimensão da experiência visual que proporciona.

Esta exposição, Rhythm of Distances: Propositions for the Repetition, possibilitada pela Porto Lazer e pela Câmara Municipal do Porto, dá continuidade à ativa programação cultural da cidade, acessível a todos. Até 3 de março, é com um acelerado e pulsante ritmo que se percorre a distância entre cada andar nesta intervenção artística que se anuncia, constrói e assume com uma determinação tão forte como a anterior, mas com uma ainda maior capacidade de surpreender. O próprio público é convidado a uma repetição, a da visita da exposição, na certeza que, de cada vez, é possível obter uma nova experiência.

 

 

Constança Babo