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ENCONTROS DE DESIGN DE LISBOA ::: DESIGN, CRISE E DEPOIS
LEVINA VALENTIM
No dia 13 de Fevereiro de 2012, decorrem na Faculdade de Belas-Artes os Encontros de Design de Lisboa / Lisbon Design Meetings (EDL/LDM) com o tema “Design, Crise e Depois”. Estes encontros “propõem um espaço de comunicação e reflexão sobre a utilização do design enquanto recurso estratégico e sobre o modo como as instituições de ensino e os centros de investigação o consolidam como área de conhecimento”.
A reflexão sobre design é em grande parte produzida pelos próprios designers. “A quem se destina esta reflexão e como é que ela influencia a prática?” Teremos efectivamente em Portugal “design como uma arma e não como cenário”? Será que os designers consideram “o significado cultural, a relevância social e o valor económico do seu trabalho”? Será que o design é, de facto, optimista? Ou será que se instalou uma verdadeira crise de confiança entre os profissionais? Estas e muitas outras questões estarão em debate num programa que se estende ao longo do dia, estruturado em duas conferências e quatro painéis.
Mas como surgiram estes encontros? A este propósito falámos com Victor M. Almeida, responsável pelo mestrado de Design de Comunicação e Novos Media (DCNM) e um dos organizadores do evento.
“Os Encontros de Design de Lisboa surgiram de um projecto iniciado pelo responsável pela Secção de Design do Centro de Investigação e Estudos de Design, professor Raul Cunca, ao qual o grupo de design de comunicação, através do seu mestrado [DCNM], aderiu. Esta iniciativa está orientada para a divulgação da produção científica desenvolvida nos graus pós-graduados (mestrados e doutoramentos) nas áreas de design de comunicação e de design de equipamento e, também, para a reflexão sobre temáticas que se constituam relevantes no âmbito dessa produção.”
Nos Encontros de Design de Lisboa estará em debate “a importância da criatividade e da inovação na construção de valor social e económico, procurando identificar o papel da universidade neste contexto”, com base na observação dos processos, das metodologias e da prática do design.
As conferências abrem com “Doing and Thinking”, de Oscar Peña, director criativo na área de iluminação da Philips Design e director do departamento Man and Activity, da Design Academy Eindhoven. “Honesty” é o título da conferência do designer gráfico, autor e crítico Daniel Van Der Velden, do estúdio Metahaven. “As competências dos designers e o contexto actual” é o primeiro painel, com Miguel Arruda, da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL), Vasco Branco, da Universidade Autónoma, e um debate moderado por Raul Cunca. “Os lugares e os contextos da crítica do Design”, serão debatidos num segundo painel, com Mário Moura, da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, e Aurelindo Ceia, do Instituto Superior de Educação e Ciências. O debate terá moderação de Emílio Vilar, da FBAUL. O terceiro painel centra-se nas “Soluções de design em contextos de crise: Itália e Portugal”, contando com a presença de Frederica dal Falco, investigadora e professora associada da Facultà La Sapienza da Universidade de Roma, Catarina Portas, investigadora e empreendedora, Luís Ferreira Rodrigues, urbanista, e os investigadores Miguel Estima e Pedro Reisinho. A moderação estará a cargo de Isabel Dâmaso, da FBAUL. Finalmente, o quarto painel, “Responsabilidade social e a crise de confiança em design”, moderado por Victor M. Almeida, “terá como objectivo imediato aproximar os conhecimentos gerados pelos profissionais da investigação dos da actividade prática, situando-os ao mesmo nível de responsabilidade social”. Compõem este painel “Endless Stories”, de Miguel Cardoso, artista computacional e professor na FBAUL; “O Bairro, agora a cores”, sobre o projecto EVA, no bairro 6 de Maio, pela designer Catarina Vasconcelos, a actriz Catarina Gonçalves e a bailarina Joana Manaças; “Souvenir”, a partir da instalação homónima, pelas designers Catarina Carreiras e Marta Villar; e “Logo depois da vírgula”, pelos Barbara Says (António Silveira Gomes e Cláudia Castelo), com Lígia Afonso e Mattia Denisse.
Quanto às expectativas sobre os Encontros, diz Victor M. Almeida:“Espero que sirvam para discutir o modo como os designers olham e reflectem a crise económica e social que afecta a cultura do design e, de maneira mais larga, como o trabalho desenvolvido nas vertentes de investigação científica e de investigação orientada para o projecto poderão conferir dinamismo à relação que se estabelece entre a produção académica, a prática projectual exterior à universidade e a sociedade.”
A edição de 2012 dos Encontros de Design de Lisboa “é uma proposta de abertura aos diversos modos como o design contribui para responder aos desafios da sociedade, e como orienta o seu potencial para novas áreas de actuação, decisivas no âmbito da actual conjuntura”. Para Victor M. Almeida esta “é uma questão sensível, uma vez que, tal como em outras áreas profissionais, a relação que se estabelece com a sociedade é dinâmica. O advento da tecnologia e as preocupações de sustentabilidade ambiental têm permitido ao design reformular os seus conceitos, sobretudo em relação àqueles que se enquadram nos ‘desafios da sociedade’. O design transitou de um período intenso de prescrição ideológica (modernismo e pós-modernismo) para outro, cujo desígnio era o ‘verde’ (poder-se-á também considerar ideológico), e na actualidade confronta-se com o interesse das gerações mais novas por uma sustentabilidade orientada para a solução de problemas que afectam directamente determinadas populações ou grupos de indivíduos. O que diferencia este momento daquele que foi protagonizado por Gui Bonsiepe e Tomás Maldonado, nas décadas de 1960 e de 1970 na América Latina (e quase em Portugal), é a energia colocada por estes grupos de designers ao serviço das comunidades e não ao serviço do Estado. Neste sentido, os novos media têm permitido optimizar recursos e alargar os canais de comunicação entre todos nós. Mas a grande vantagem de tudo isto é que é dinâmico e de entendimento plural.”
Dentro da programação dos EDL, será inaugurada a exposição, “Design em Lisboa — comunicação, urbano, produto, estudos”, na galeria da FBAUL, e lançada a publicação SAMIZDAT, de Marco Balesteros e Sofia Gonçalves, registo do workshop efectuado de Janeiro a Abril de 2010 sobre as questões fundamentais do self-publishing.
Programa completo em:
www.encontrosdesign.info/port.html