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SNAPSHOT. NO ATELIER DE...




Cortesia: João Queiroz e o Colectivo de Curadores/ProjectoMap, 2014


Fotografia: Manuel Botelho


Fotografia: Pedro Tropa


Fotografia: Pedro Tropa


Fotografia: Pedro Tropa


Fotografia: Pedro Tropa


Fotografia: Pedro Tropa

Outros registos:

Guilherme Figueiredo



Babu



Tiago Loureiro



S/ Título



Francisco Rivas



Beatriz Roquette



César Barrio



João Gomes Gago



Joana Franco



Rudi Brito



Pedro Batista



Coletivo Artístico Pedra no Rim



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João Seguro



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Antonio Fiorentino



Alexandre Conefrey



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João Fonte Santa



André Sier



Rui Algarvio



Rui Calçada Bastos



Paulo Quintas



Miguel Ângelo Rocha



Miguel Palma



Miguel Bonneville



Ana Tecedeiro



João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira



João Serra



André Gomes



Pauliana Valente Pimentel



Christine Henry



Joanna Latka



Fabrizio Matos



Andrea Brandão e Daniel Barroca



Jarosław Fliciński



Pedro Gomes



Pedro Calapez



João Jacinto



Atelier Concorde



Noronha da Costa



Pedro Valdez Cardoso



Pedro Pousada



Gonçalo Pena



São Trindade



Inez Teixeira



Binelde Hyrcan



António Júlio Duarte



Délio Jasse



Nástio Mosquito



José Pedro Cortes




JOãO QUEIROZ

LIZ VAHIA


 

 

Formado em Filosofia, João Queiroz liga uma prática reflexiva à construção de uma obra pictórica que vem apresentando desde o início da década de 1980. De saída do seu atelier na Avenida da Liberdade, João Queiroz conversou com a Artecapital sobre o modo como o seu processo de trabalho se relaciona com os espaços (o campo, o atelier), a paisagem como um “olhar próprio” e a sua recente participação no filme “Os Maias”, de João Botelho.

 

 

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LV: Está de saída do seu atelier no conhecido edifício Avenida 211. Em 2012 disse ao Projecto MAP que não era pintor de atelier, que não gostava de lugares fixos e que não se ligava sentimentalmente ao espaço, rematando com a afirmação de que “aquilo em que trabalho não me permite estar sempre no mesmo sítio”. É sem nostalgia que deixa então este espaço?

 

JQ: Sempre tive atelier em lugares provisórios. Nunca me instalei realmente. Habituei-me mais ao modelo da tenda do que ao da casa. Este hábito criou em mim uma relação com o local de trabalho de algum afastamento. Nunca tento criar um espaço de conforto sedentário. Há sempre qualquer coisa que indica que estou de partida, mais tarde ou mais cedo. Não posso saber se irá ser sempre assim, até agora foi.
Embora se tivesse prolongado por bastante tempo, a minha ocupação de um atelier na Avenida 211 manteve ao longo dos anos esse carácter de acampamento temporário.
De facto é sem nostalgia que abandono o espaço onde trabalhei nos últimos anos. Não é sem alguma nostalgia, contudo, que vejo acabarem as condições que permitiram um contacto intenso com muitos colegas e a realização de muitos acontecimentos que foram marcantes. 

 


LV: Sendo conhecido como um pintor ligado à representação da paisagem, da natureza vegetal, como era trabalhar num ambiente fechado no centro da avenida mais importante da cidade?

 

JQ: Entendo a paisagem como uma ideia de quadro, antes de poder ser, e não necessariamente, a representação de algo exterior. Uma pintura de paisagem convoca o nosso olhar de uma maneira própria. Há uma maneira específica desse olhar transportar um corpo. A articulação interna dos elementos do quadro permitem e ao mesmo tempo exigem esse funcionamento do olhar. É o nosso olhar...que transporta um corpo indistinguível consigo...que nos indica que estamos perante uma paisagem e que devemos preencher esse acto de ver de uma determinada maneira. A paisagem é o resultado desse preenchimento: do preenchimento de um acto de ver próprio.
O quadro, desencadeia e permite esse jogo, apela e repele de uma maneira específica, abre e fecha caminhos, posiciona-se em relação ao nosso corpo e exige dele um ou vários posicionamentos compatíveis.
A atenção e o contacto com os elementos da Natureza, a sua análise, a sua tradução em gestos aprendidos, a sua memória, o seu relacionamento...muito mais vasto e aberto que os significados traduzíveis na linguagem...são condições prévias para a realização de uma paisagem que pode, cumpridas estas condições, ser fabricada num prédio da Avenida.

  


LV: O “trabalho de campo” seria o atelier perfeito, ou é necessário passar por esse espaço de reflexão que é o atelier como local espacial e temporalmente específico?

 

JQ: O atelier é local onde se tem, sobretudo, contacto com o trabalho no processo de "estar a ser feito". Reflexão, atenção, concentração, luz, tempo, espaço, tudo é importante neste processo.
Fiz há anos um desenho que se chamava: " picadas de moscas no intervalo das linhas"... foi feito no campo. No atelier essas perturbações não existem. São de outro género as que interferem com essa constante relação com o que está acontecer no papel ou na tela.

 


LV: O olhar do João Queiroz sobre a “paisagem” é um olhar que não a domestica, as suas pinturas não são a representação de um enquadramento, antes vê-se que são resultado de uma passagem por um corpo, ficaram com traços desse processo, como as pinturas passam por raios x no restauro, resultando umas imagens reconhecíveis sem no entanto serem reais. Vejo a ideia de paisagem na sua pintura como um conceito dinâmico. Concorda?

 

JQ: É de facto um conceito dinâmico, e o resultado prático é uma dinâmica que se mostra.
Diria até mais: está presente uma dupla dinâmica, com consonâncias e dissonâncias, que já está presente no acto de fazer entre o ver que faz e o ver que observa.
Não é possível ver uma dessas pinturas sem pôr em funcionamento uma dinâmica da observação que pode entrar em diversas relações com a dinâmica expressa no quadro. É essa vivência que penso ser interessante. A dimensão temporal é muito importante...os diversos tempos presentes que também podem ser vividos de formas diferentes. Estamos num outro regime, diferente do da simples apreensão, compreensão ou reacção a uma imagem.

  


LV: Recentemente vimos as suas pinturas agigantadas no último filme de João Botelho, “Os Maias”. Como é que surgiu o convite para trabalhar neste projecto?

 

JQ: O realizador quis que todos os exteriores do filme fossem pinturas, a concepção formal do filme exigia-o. O João Botelho já tinha feito um pequeno documentário sobre o meu trabalho. Pensou que eu poderia realizar essas pinturas dos exteriores. Convidou-me e eu aceitei.

 


LV: As telas que serviram de cenário neste filme derivaram de um processo de trabalho diferente do habitual? Foram pensadas para serem uma “pintura habitada”?

 

JQ: O processo de realização das pinturas que estão na base dos cenários foi completamente diferente do meu modo habitual de trabalho. O resultado tinha de servir sobretudo as necessidades do filme. Teria de ser um tipo de representação que fosse adequado.
A habitação dessas pinturas por personagens reais cria um ambiente surrealizante, por tal um pouco irónico, ao filme, que muito me agrada. Podemos de facto pensar em pinturas habitadas. Penso que a ideia de pintura habitada tenha estado muito presente no espírito do realizador.