Links

PERSPETIVA ATUAL


Manufacture Nationale des Tabacs. Marsseille 1906. Gravura


Entrada 1: Rue Jobin


La Friche


Atelier le dernier cri


Corredor de acesso


Indicação num corredor


La Friche


La Friche


La Friche. Studios


La Friche. Studios


Zona de Entrada 2: Rue F. Simon

Outros artigos:

2024-04-13


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2024-03-04


PEDRO CABRAL SANTO


2024-01-27


NUNO LOURENÇO


2023-12-24


MAFALDA TEIXEIRA


2023-11-21


MARC LENOT


2023-10-16


MARC LENOT


2023-09-10


INÊS FERREIRA-NORMAN


2023-08-09


DENISE MATTAR


2023-07-05


CONSTANÇA BABO


2023-06-05


MIGUEL PINTO


2023-04-28


JOÃO BORGES DA CUNHA


2023-03-22


VERONICA CORDEIRO


2023-02-20


SALOMÉ CASTRO


2023-01-12


SARA MAGNO


2022-12-04


PAULA PINTO


2022-11-03


MARC LENOT


2022-09-30


PAULA PINTO


2022-08-31


JOÃO BORGES DA CUNHA


2022-07-31


MADALENA FOLGADO


2022-06-30


INÊS FERREIRA-NORMAN


2022-05-31


MADALENA FOLGADO


2022-04-30


JOANA MENDONÇA


2022-03-27


JEANNE MERCIER


2022-02-26


PEDRO CABRAL SANTO


2022-01-30


PEDRO CABRAL SANTO


2021-12-29


PEDRO CABRAL SANTO


2021-11-22


MANUELA HARGREAVES


2021-10-28


CARLA CARBONE


2021-09-27


PEDRO CABRAL SANTO


2021-08-11


RITA ANUAR


2021-07-04


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-05-30


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-04-28


CONSTANÇA BABO


2021-03-17


VICTOR PINTO DA FONSECA


2021-02-08


MARC LENOT


2021-01-01


MANUELA HARGREAVES


2020-12-01


CARLA CARBONE


2020-10-21


BRUNO MARQUES


2020-09-16


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2020-08-14


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-07-21


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-25


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-09


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-05-21


MANUELA HARGREAVES


2020-05-01


MANUELA HARGREAVES


2020-04-04


SUSANA GRAÇA E CARLOS PIMENTA


2020-03-02


PEDRO PORTUGAL


2020-01-21


NUNO LOURENÇO


2019-12-11


VICTOR PINTO DA FONSECA


2019-11-09


SÉRGIO PARREIRA


2019-10-09


LUÍS RAPOSO


2019-09-03


SÉRGIO PARREIRA


2019-07-30


JULIA FLAMINGO


2019-06-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2019-05-09


INÊS M. FERREIRA-NORMAN


2019-04-03


DONNY CORREIA


2019-02-15


JOANA CONSIGLIERI


2018-12-22


LAURA CASTRO


2018-11-22


NICOLÁS NARVÁEZ ALQUINTA


2018-10-13


MIRIAN TAVARES


2018-09-11


JULIA FLAMINGO


2018-07-25


RUI MATOSO


2018-06-25


MARIA DE FÁTIMA LAMBERT


2018-05-25


MARIA VLACHOU


2018-04-18


BRUNO CARACOL


2018-03-08


VICTOR PINTO DA FONSECA


2018-01-26


ANA BALONA DE OLIVEIRA


2017-12-18


CONSTANÇA BABO


2017-11-12


HELENA OSÓRIO


2017-10-09


PAULA PINTO


2017-09-05


PAULA PINTO


2017-07-26


NATÁLIA VILARINHO


2017-07-17


ANA RITO


2017-07-11


PEDRO POUSADA


2017-06-30


PEDRO POUSADA


2017-05-31


CONSTANÇA BABO


2017-04-26


MARC LENOT


2017-03-28


ALEXANDRA BALONA


2017-02-10


CONSTANÇA BABO


2017-01-06


CONSTANÇA BABO


2016-12-13


CONSTANÇA BABO


2016-11-08


ADRIANO MIXINGE


2016-10-20


ALBERTO MORENO


2016-10-07


ALBERTO MORENO


2016-08-29


NATÁLIA VILARINHO


2016-06-28


VICTOR PINTO DA FONSECA


2016-05-25


DIOGO DA CRUZ


2016-04-16


NAMALIMBA COELHO


2016-03-17


FILIPE AFONSO


2016-02-15


ANA BARROSO


2016-01-08


TAL R EM CONVERSA COM FABRICE HERGOTT


2015-11-28


MARTA RODRIGUES


2015-10-17


ANA BARROSO


2015-09-17


ALBERTO MORENO


2015-07-21


JOANA BRAGA, JOANA PESTANA E INÊS VEIGA


2015-06-20


PATRÍCIA PRIOR


2015-05-19


JOÃO CARLOS DE ALMEIDA E SILVA


2015-04-13


Natália Vilarinho


2015-03-17


Liz Vahia


2015-02-09


Lara Torres


2015-01-07


JOSÉ RAPOSO


2014-12-09


Sara Castelo Branco


2014-11-11


Natália Vilarinho


2014-10-07


Clara Gomes


2014-08-21


Paula Pinto


2014-07-15


Juliana de Moraes Monteiro


2014-06-13


Catarina Cabral


2014-05-14


Alexandra Balona


2014-04-17


Ana Barroso


2014-03-18


Filipa Coimbra


2014-01-30


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2013-12-09


SOFIA NUNES


2013-10-18


ISADORA H. PITELLA


2013-09-24


SANDRA VIEIRA JÜRGENS


2013-08-12


ISADORA H. PITELLA


2013-06-27


SOFIA NUNES


2013-06-04


MARIA JOÃO GUERREIRO


2013-05-13


ROSANA SANCIN


2013-04-02


MILENA FÉRNANDEZ


2013-03-12


FERNANDO BRUNO


2013-02-09


ARTECAPITAL


2013-01-02


ZARA SOARES


2012-12-10


ISABEL NOGUEIRA


2012-11-05


ANA SENA


2012-10-08


ZARA SOARES


2012-09-21


ZARA SOARES


2012-09-10


JOÃO LAIA


2012-08-31


ARTECAPITAL


2012-08-24


ARTECAPITAL


2012-08-06


JOÃO LAIA


2012-07-16


ROSANA SANCIN


2012-06-25


VIRGINIA TORRENTE


2012-06-14


A ART BASEL


2012-06-05


dOCUMENTA (13)


2012-04-26


PATRÍCIA ROSAS


2012-03-18


SABRINA MOURA


2012-02-02


ROSANA SANCIN


2012-01-02


PATRÍCIA TRINDADE


2011-11-02


PATRÍCIA ROSAS


2011-10-18


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-09-23


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-07-28


PATRÍCIA ROSAS


2011-06-21


SÍLVIA GUERRA


2011-05-02


CARLOS ALCOBIA


2011-04-13


SÓNIA BORGES


2011-03-21


ARTECAPITAL


2011-03-16


ARTECAPITAL


2011-02-18


MANUEL BORJA-VILLEL


2011-02-01


ARTECAPITAL


2011-01-12


ATLAS - COMO LEVAR O MUNDO ÀS COSTAS?


2010-12-21


BRUNO LEITÃO


2010-11-29


SÍLVIA GUERRA


2010-10-26


SÍLVIA GUERRA


2010-09-30


ANDRÉ NOGUEIRA


2010-09-22


EL CULTURAL


2010-07-28


ROSANA SANCIN


2010-06-20


ART 41 BASEL


2010-05-11


ROSANA SANCIN


2010-04-15


FABIO CYPRIANO - Folha de S.Paulo


2010-03-19


ALEXANDRA BELEZA MOREIRA


2010-03-01


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-02-17


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-01-26


SUSANA MOUZINHO


2009-12-16


ROSANA SANCIN


2009-11-10


PEDRO NEVES MARQUES


2009-10-20


SÍLVIA GUERRA


2009-10-05


PEDRO NEVES MARQUES


2009-09-21


MARTA MESTRE


2009-09-13


LUÍSA SANTOS


2009-08-22


TERESA CASTRO


2009-07-24


PEDRO DOS REIS


2009-06-15


SÍLVIA GUERRA


2009-06-11


SANDRA LOURENÇO


2009-06-10


SÍLVIA GUERRA


2009-05-28


LUÍSA SANTOS


2009-05-04


SÍLVIA GUERRA


2009-04-13


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2009-03-23


PEDRO DOS REIS


2009-03-03


EMANUEL CAMEIRA


2009-02-13


SÍLVIA GUERRA


2009-01-26


ANA CARDOSO


2009-01-13


ISABEL NOGUEIRA


2008-12-16


MARTA LANÇA


2008-11-25


SÍLVIA GUERRA


2008-11-08


PEDRO DOS REIS


2008-11-01


ANA CARDOSO


2008-10-27


SÍLVIA GUERRA


2008-10-18


SÍLVIA GUERRA


2008-09-30


ARTECAPITAL


2008-09-15


ARTECAPITAL


2008-08-31


ARTECAPITAL


2008-08-11


INÊS MOREIRA


2008-07-25


ANA CARDOSO


2008-07-07


SANDRA LOURENÇO


2008-06-25


IVO MESQUITA


2008-06-09


SÍLVIA GUERRA


2008-06-05


SÍLVIA GUERRA


2008-05-14


FILIPA RAMOS


2008-05-04


PEDRO DOS REIS


2008-04-09


ANA CARDOSO


2008-04-03


ANA CARDOSO


2008-03-12


NUNO LOURENÇO


2008-02-25


ANA CARDOSO


2008-02-12


MIGUEL CAISSOTTI


2008-02-04


DANIELA LABRA


2008-01-07


SÍLVIA GUERRA


2007-12-17


ANA CARDOSO


2007-12-02


NUNO LOURENÇO


2007-11-18


ANA CARDOSO


2007-11-17


SÍLVIA GUERRA


2007-11-14


LÍGIA AFONSO


2007-11-08


SÍLVIA GUERRA


2007-10-25


SÍLVIA GUERRA


2007-10-20


SÍLVIA GUERRA


2007-10-01


TERESA CASTRO


2007-09-20


LÍGIA AFONSO


2007-08-30


JOANA BÉRTHOLO


2007-08-21


LÍGIA AFONSO


2007-08-06


CRISTINA CAMPOS


2007-07-15


JOANA LUCAS


2007-07-02


ANTÓNIO PRETO


2007-06-21


ANA CARDOSO


2007-06-12


TERESA CASTRO


2007-06-06


ALICE GEIRINHAS / ISABEL RIBEIRO


2007-05-22


ANA CARDOSO


2007-05-12


AIDA CASTRO


2007-04-24


SÍLVIA GUERRA


2007-04-13


ANA CARDOSO


2007-03-26


INÊS MOREIRA


2007-03-07


ANA CARDOSO


2007-03-01


FILIPA RAMOS


2007-02-21


SANDRA VIEIRA JURGENS


2007-01-28


TERESA CASTRO


2007-01-16


SÍLVIA GUERRA


2006-12-15


CRISTINA CAMPOS


2006-12-07


ANA CARDOSO


2006-12-04


SÍLVIA GUERRA


2006-11-28


SÍLVIA GUERRA


2006-11-13


ARTECAPITAL


2006-11-07


ANA CARDOSO


2006-10-30


SÍLVIA GUERRA


2006-10-29


SÍLVIA GUERRA


2006-10-27


SÍLVIA GUERRA


2006-10-11


ANA CARDOSO


2006-09-25


TERESA CASTRO


2006-09-03


ANTÓNIO PRETO


2006-08-17


JOSÉ BÁRTOLO


2006-07-24


ANTÓNIO PRETO


2006-07-06


MIGUEL CAISSOTTI


2006-06-14


ALICE GEIRINHAS


2006-06-07


JOSÉ ROSEIRA


2006-05-24


INÊS MOREIRA


2006-05-10


AIDA E. DE CASTRO


2006-04-05


SANDRA VIEIRA JURGENS



MISE EN FRICHE—A OCUPAÇÃO DO BALDIO E A CONSTITUIÇÃO DO ESPAÇO ATÍPICO



AIDA CASTRO

2007-11-02




“Em Ersília, para estabelecer as relações que governam a vida da cidade, os habitantes estendem fios entre as esquinas das casas, (...). Quando os fios são tantos que já não se pode passar pelo meio deles, os habitantes vão-se embora: as casas são desmontadas; só restam os fios e os suportes dos fios.

(...), os refugiados de Ersília vêem o intricado de fios estendidos e de postes que se ergue na planície. Isto ainda é a cidade de Ersília, e eles não são nada.

Reedificam Ersília noutro lugar. Tecem com os fios uma figura semelhante que desejariam mais complicada e ao mesmo tempo mais regular que a outra. Depois abandonam-na e levam ainda para mais longe tanto a si próprios como as suas casas (....)”

Italo Calvino, Cidades Invisíveis



O que se traz para este texto é um breve caso de estudo que apresenta um modelo, uma hipótese de política cultural, com tudo o que pode conter de utopia e de falibilidade na sua possível aplicação ao actual contexto português. Esta participação quer arriscar, quer denunciar, quer espicaçar os interessados e os potenciais agentes, quer apoiar um trabalho já longo e permanente, mas também quer abrir uma brecha nesse discurso dito “independente”, “informal”, “não-institucional”, localizado em várias frentes. Para que o ânimo não encontre o fim da linha, e também numa tentativa de reorganizar interesses, deixa-se aqui um espaço-testemunho que sai da discussão trivialmente assente nos binómios in/out ou on/off e outras nomenclaturas já esgotadas na sua fetichização que entretanto proliferaram. Vamos sabendo de projectos, pelas suas manifestações, que não querem debater (n)os lugares tradicionais da arte, porque já não centram essas problemáticas em si mesmos, mas noutras como o fazer transbordando os limites demasiado ditados que jogam a neutralidade cultural. Nesta direcção, este caso apresenta uma linha de trabalho colectivo numa constituição que parte do baldio.


1. La Friche La Belle de Mai (1) é um lugar na cidade de Marselha, sul de França. Como a cidade de Calvino, aqui teceram teias de relações sucessivamente protagonizadas quer por artistas, produtores culturais, projectos colectivos, editoras, como por exposições, concertos, rádio, peças de teatro e dança, públicos, etc. Desde 1992, nas infra-estruturas da falecida “Manufacture des Tabacs” (2) do quarteirão industrial La Belle de Mai, a associação “Système Friche Théâtre”, hoje dirigida por Philippe Foulquié, promove la culture vivante. Este formato não é uma novidade, os espaços baldios e as ruínas industriais testemunhos da deterioração económica e social têm sido ocupados desde os anos 70 (3) por projectos emergentes de cariz cultural, social e político que proporcionam a re-territorialização e o retorno ao espaço real como reposta à tirania do tempo real, virtual e mundial. Este pensamento de Paulo Virilio esclarece precisamente a estratégia de interpelar a cidade. Da necessidade de colocar um corpo num território quando a opção principal é trabalhar a permanência artística: l’artist, la ville, sa ville três palavras que sobrepostas definem um dos princípios do sítio. Inserido num movimento “artfactories” (4) apresenta uma solução e mutação da política cultural — neste caso de Marselha, as instalações de “La Friche” foram cedidas pela câmara à associação que gere o espaço de pesquisa e experimentação dedicado à criação contemporânea. Na conciliação de produtores artísticos e artistas residentes ou convidados assegura-se a permanência artística na cidade, garantindo como compromisso um dispositivo de acolhimento e de trabalho. Ateliês pessoais, salas de teatro e exposições, cantina, produtoras de multimédia e cinema estão organizados num espaço que não esconde ruínas, e acopladas juntam-se novas soluções arquitectónicas que proporcionam a mestiçagem. Da arquitectura, da arte, da cultura, dos públicos. Com programação mensal que compreende as propostas dos agentes e dos residentes, e com a edição de um jornal semestral que debate e apresenta os acontecimentos em reflexões teóricas, “La Friche La Belle de Mai” completa, sem a arrogância de querer substituir, os lugares da cultura.


2. Entre o squat e o phalanstère, La Friche apresenta uma solução que não deixa de ser paradoxal, por um lado assegura um espaço “livre” onde a coabitação e o reencontro são premissas - basta pensar que cada interveniente age individualmente e se debate numa programação geral do sítio -, e por outro lado enclausura uma série de apoios estatais e privados que vêm da aplicação de uma política pós-descentralizada: ora de uma necessidade de desenvolvimento pela cultura, ora de uma atracção fatal por aquilo que zumbe e faz ruído. Em 2001 o relatório "Friches, laboratoires, fabriques, squats, projets pluridisciplinaires...: une nouvelle époque de l'action culturelle” (5) produzido por Fabrice Lextrait, antigo administrador de La Friche, foi apresentado publicamente por Michel Duffour (6), na altura secretário do Estado do Património e da Descentralização Cultural. Dividido em dois volumes, o relatório reúne numa primeira parte estudos de caso situados por toda a França, e numa segunda parte analisa fundamentos dos projectos, assim como problemáticas nas ligações entre práticas artísticas e o público. Ou seja, ao mesmo tempo que informatiza e localiza estes sítios antes invisíveis para uma entidade como o Estado, denuncia formas organizativas e seus agentes.


Apesar da proposta feita a F. Lextrait alertar que a ideia não será a de institucionalizar esses espaços mas a de resolver uma política cultural que lhes sirva de apoio (7), estamos perante uma clivagem. Estes projectos têm como fundamento perfis incertos e provisórios. Mesmo que sejam economicamente apoiados devem manter essa dinâmica “não-racional” por ser exactamente aí que diferem de qualquer carácter estanque e institucional. Há um espaço-agente, sem dúvida, mas se este não nomadizar, acabará por gerar demasiadas regras, e assim falível de se tornar ele próprio outra clausura. No caso do La Friche a associação SFT lida com a burocracia, enquanto os “frichistes” convivem entre si sem essas conformidades, portanto mais livres e autónomos. O que se faz ali cruza trabalhos, por exemplo o colectivo e editora “le Dernier cri” (8) ilustrou a capa do último jornal, cruza públicos e cruza práticas artísticas com públicos. Estes acarretam todas as problemáticas que implicam relações, e isso é sempre mediado por quem está no sítio. Só que estar neste sítio não é imposto, não implica estar moldado a uma forma, ele próprio é uma brecha na cidade. O empírico revela-se liberto tanto a nível de trabalho como para quem é visitante. Por isso é um espaço a reconsiderar. A verdade é que alguém terá que lidar com o reverso da moeda, a não ser que se exija menos e se trabalhe em ambientes mais precários.


3. Os riscos que se colocam ao entregar o relatório, gesto que levou à reunião de todos os agentes implicados na redefinição da política cultural e a um colóquio realizado no La Friche em Fevereiro de 2002 com o nome “Nouveaux territoires de l’art/new arts arenas” (9), são, entre os apontados, a absorção institucional que origina uma capacidade de ser escutado, e a possibilidade de domesticação. E sendo assim interpelam-se dúvidas: qual será a via mais adequada para os projectos que se territorializam ao redor da instituição? A disseminação ou a constituição de territórios colectivos independentes? Será a disseminação de territórios colectivos independentes? Ou a independência será uma falácia? A autonomia será indispensável, e, de resto, terá que se insistir nas deficiências auditivas para que se mantenha o fôlego dos projectos, para não se cair em propostas relacionais, e manter algum antagonismo. E, principalmente, nestas outras arenas possibilitar a relação viva com a alteridade, e a liberdade de criar em função de tensões afectivas que reúnem os colectivos, e assim direccionar o dispositivo artístico para a conexão progressiva às práticas sociais e políticas. A dimensão micropolítica revelar-se-á pertinente—mantendo a dimensão crítica e interventiva para que se defina uma política própria da arte—excluindo posições militantemente pedagógicas, ou temas de engajamento político, que muitas das vezes utilizam os seus meios como exercícios de denunciação e de “despertar consciência”, na medida em que se revelam mais perversos ao revelar faces visíveis da estratégia de dominação. O que se convoca para o terreno é, citando Suely Rolnik, a experiência destas estratégias nos corpos vibrantes, a face invisível, inconsciente, micropolítica, que interfere nos processos de subjectivação (10).


Aida Castro


NOTAS
(1) Sítio: www.lafriche.org/
(2) Mais informação sobre a fábrica: www.lafriche.org/friche/zdyn1/rubrique.php3?id_rubrique=104
(3) Exemplos anteriores aqui: Berlim, www.ufafabrik.de/intro.php; Amesterdão, www.melkweg.nl/; Bruxelas, www.halles.be/
(4) Ver o site de pesquisa Artfactories: www.artfactories.net/
(5) O relatório está disponível aqui: www.culture.gouv.fr/culture/actualites/rapports/lextrait/lextrait.htm
(6) Comunicado: www.culture.gouv.fr/culture/actualites/conferen/duffour-2001/lextrait.htm
(7) Consultar a proposta formal a F. Lextrait na introdução do primeiro volume do relatório: “Face à la très grand diversité des approches, l’objectifs de cette mission est d’appréhender et de rendre plus explicites les fondements communs de ces initiatives singulières, leurs déterminants artistiques, économiques, éthiques et politiques ainsi que leurs modes d’organisation. Il s’agite en effet de construire une approche raisonné afin que les services du ministère de la Culture puissent les repérer, les écouter et les accompagner sans pour autant les institutionnalise, les enfermer dans des catégories ou créer un nouveaux label”, ao qual F. Lextrait respondeu no segundo volume: “Fondements communs?”
(8) www.lederniercri.org/
(9) www.lafriche.org/nta/index1.html
(10) In, “La memoire du cops contamine le musée”, Multitudes, 28, 2007.