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O ESTADO DA ARTE


Conversa de apresentação do livro Diários, de Rui Chafes. © Arte 351


Conversa de apresentação do livro Diários, de Rui Chafes. © Arte 351


Vista da exposição do Prémio Desenho FLAD 2022. © Arte 351


Vista da exposição do Prémio Desenho FLAD 2022. © Arte 351


Vista da exposição do Prémio Desenho FLAD 2022. © Arte 351


Vista da exposição do Prémio Desenho FLAD 2022. © Arte 351


Vista da exposição do Prémio Desenho FLAD 2022. © Arte 351


Vista da exposição do Prémio Desenho FLAD 2022. © Arte 351


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Numa das Millennium Art Talks, que ocorreram na última edição da feira de arte Drawing Room, que teve lugar de 26 a 30 de outubro na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, José Luís Porfírio dizia que “o desenho tão depressa se começa, como acaba, como volta a começar”. Poder-se-ia dizer o mesmo do falar sobre desenho. O desenho é aquele assunto que só parece que se pode rodear, como o título da colecção “Conversas em torno do desenho” (sublinhado meu) de Cristina Robalo, nunca se chegando a agarrar definitivamente. Como diz Pedro A. H. Paixão numa dessas conversas, o desenho deixa-nos “algo sempre por pensar” [1]. O desenho é demasiado material e demasiado etéreo ao mesmo tempo, tanto prático como teórico, tanto exterior como interior, tanto privado como público.

“É muito difícil definir o que é desenho”, disse Nuno Faria numa das conversas. Para o curador, o desenho não é uma coisa exterior a nós, e a escola mata o que é o desenho porque não percebe que este é uma coisa interior - o papel, no desenho, é algo que é muito mais. “Há algo de portátil e imóvel, uma resposta muito transparente e imediata ao nosso entorno”, sugeriu a artista Francisca Carvalho, e alguém do público perguntou depois: “Não acha que o desenho é uma forma de atenção às coisas?”, ao que a artista respondeu “Sem dúvida! É uma forma de gerar sentido através da atenção.”

Uma atenção ao desenho, à prática diversificada do desenho, foi o que este ciclo de conversas tentou fazer. Com programação da curadora Maria do Mar Fazenda, as quatro conversas e a apresentação do livro de Rui Chafes, Diários, juntaram artistas, curadores e críticos para falar desse tema que nunca se fecha: o que é o desenho?

A primeira conversa começou logo com Emília Ferreira a afirmar que "o desenho está em todo o lado, em tudo à nossa volta. Mas o desenho é muito humilde, apaga-se. É o pai de todas as artes, mas foram as suas filhas (pintura, escultura, arquitectura) que se destacaram.“ Para Emília Ferreira, a linha está em tudo e o que se pode fazer com ela tem uma potência incrível.

Na conversa intitulada “O exercício experimental do desenho”, moderada por Pedro Calhau e com os artistas António Bolota, Marco Franco, Maja Escher, Maria Ana Vasco Costa e Vera Mota, falou-se sobretudo da relação do desenho com a prática artística de cada um.

A primeira pergunta de Pedro Calhau foi directa: “Como é que o desenho entra na vossa prática?” Para Vera Mota, o desenho permite manter um contacto directo com os materiais e o processo de produção e composição — uma relação directa com o corpo. Também para Maria Ana Vasco Costa, o desenho surge com o contacto com o material (no seu caso, surge na modulação da cerâmica), diz que o desenho aparece no fim, como uma procura pela “matéria”. A questão dos materiais é igualmente referida por Marco Franco, como aliados do lado primordial de transmitir algo a que o desenho se presta. E para Maja Escher, o desenho é mesmo a forma de se relacionar com o mundo, de o compreender melhor.

“Quando dizemos que uma coisa ‘tem desenho’, tem desenho porquê?”, perguntava depois Pedro Calhau, e disse que para si um desenho quando tem desenho tem vida, “anima”. Para Maria Ana Vasco Costa, quando ‘há desenho’ há equilíbrio entre todos os elementos, as coisas que não têm desenho são pesadas e enfadonhas, aborrecem-nos. “Quando há desenho é porque houve mais cuidado”, disse Vera Mota, para quem o desenho tem sempre uma marca da inscrição do tempo, uma coisa que fez um trajecto, algo que pode ser lido como uma partitura, algo que fica lá. Esta ideia de linha inscrita pelo tempo que permanece, é também referida por Maja Escher quando diz “Onde é que eu vejo desenho? Por exemplo, no crescimento de uma planta, há uma linha invisível que ela traça.”

António Bolota afirmou que à medida que vamos amadurecendo o pensamento, o desenho se vai tornando cada vez mais importante. Para este artista, o desenho tem o lado directo do fazer, mas também há nele um lado projectual que é importante.

A ideia de projecto é também referida por Rui Sanches, na conversa que houve sobre a presença do desenho na actividade da Fundação Carmona e Costa (FCC) e que juntou, além deste artista, o curador Nuno Faria e a artista Francisca Carvalho (bolseira da FCC entre 2014-2016). Para Rui Sanches, são as mesmas questões que são tratadas na sua escultura e no seu desenho. Apesar dos seus desenhos terem uma autonomia, estes são feitos a partir das esculturas ou são preparatórios das esculturas. Mas não são facilmente identificáveis, como o trabalho da escultura, diz que se poderia pensar que são de artistas diferentes, no entanto, subjacente às duas actividades estão as mesmas questões. Para Rui Sanches, há uma ideia de projecto, algo que vem de dentro e é projectado rapidamente, algo imediato e que abre pistas e caminhos para outras hipóteses.

Rui Sanches reconheceu que o desenho aparece na actividade dos artistas de forma muito diferente. Muitos artistas desenham, uns mais secretamente, outros mais publicamente, mas as oportunidades para expôr desenho não são muitas. Para este artista, o trabalho da FCC contribuiu para revelar essas práticas que expandem as fronteiras do desenho.

 

Diários, de Rui Chafes. © Pierre von Kleist editions

 

Houve ainda lugar na feira para uma conversa de apresentação do livro de desenhos de Rui Chafes, Diários, que contou com a presença do artista, de Nuno Faria e dos representantes das edições Pierre von Kleist. A relação de Rui Chafes com o desenho não é fácil de definir também:

“Não vendo desenho, não exponho desenho. A minha actividade de desenho faz parte da minha actividade diária [como pessoa]. A minha linguagem pública é a escultura, o desenho faço para viver, para respirar, pois não consigo viver sem desenhar. Não é um “trabalho” como é a escultura. Faço desenhos, não diariamente mas quase, e ponho na gaveta. Enquanto escultor, para mim a prática do desenho é constante, o desenho é a afirmação mais rápida do que a escultura vai ser. Todos estes desenhos [incluídos no livro] são desenhos de esculturas e todas as esculturas estão nestes desenhos.
Mas como eu construo a escultura é completamente diferente de como construo o desenho. Há um lado de transe na actividade do desenho que não pode haver na actividade de escultura, senão corre mal. Os tempos também são diferentes, no desenho o tempo é muito rápido, obsessivo, a escultura passa por um processo técnico grande. São quase dois mundos, por isso nunca mostro os dois aos mesmo tempo e no mesmo sítio.”

Nuno Faria completou dizendo que “quando falamos de desenhos não falamos de imagens. O Rui diz que os desenhos são espaços de intimidade, projecções interiores e não um exercício de virtuosismo. São extractos temporais que coincidem com o trabalho do Rui — paralaxe. O desenho é uma espécie de arqueologia, uma tarefa complexa, psicanalítica. Aparece ligada ao papel como a imagem fotográfica se revela no papel. Há uma revelação, uma confirmação, projecção de coisas que são interiores. O desenho está no meio, entre o visível e o invisível, entre a vida e a morte.”

Para Nuno Faria, ao falarmos de desenho estamos a falar de fantasmas, de emergência. Sendo o desenho uma espécie de origem da arte, o desenho será sempre misterioso, diz-nos. “O desenho tem sempre alguma profecia, algo de vidente, e estes desenhos [do Rui Chafes] viviam na escuridão, por isso falo de um aparecimento que é misterioso. Os desenhos do Rui não são desenhos de representação, estão num outro campo, estão mais próximos da imaginação do que da representação.”

José Luís Porfírio, que participou na conversa sobre o projecto editorial de Cristina Robalo “Conversas em torno do desenho”, trouxe à discussão “o problema do ver”: “há a ideia de que o ver é instantâneo, mas o ver não tem fim, há coisas que não se acabam de ver. Eu vejo quando escrevo (isso é “o trabalho da escrita”), o ver não acaba quando se fecha os olhos.” Para José Luís Porfírio, o desenho acontece um pouco por toda a parte, tem a ver com o surgir das coisas, não interessa o quê. Cristina Robalo também comentou “a facilidade com que se pode desenhar, o lado simples e de fácil recurso, onde não é preciso ter muitos meios para o fazer e por isso mesmo o desenho se pode desdobrar em muitos modos de fazer.” Daí que tenha convidado para a colecção “Conversas em torno do desenho” pessoas que não são artistas como, por exemplo, Maria Filomena Molder. Apesar de haver formas diferentes de desenhar, “o desejo de desenhar tem qualquer coisa de encantatório”, é um desejo diferente, no processo em si, de outras expressões artísticas.

Este ciclo de conversas mostrou como as práticas e explorações do desenho, como pensamento e não tanto como disciplina, são ainda um diálogo sem fim entre artistas e curadores, críticos e instituições. Como se afirmava no texto de apresentação das Millennium Art Talks, a junção destes agentes pretendeu que se “desenhassem espaços de conversa”, sempre a repetir, sempre novos.

 

 

Liz Vahia
Licenciada em Antropologia, pela Universidade de Coimbra. Doutoranda no programa Filosofia da Ciência, Tecnologia, Arte e Sociedade da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

 

 

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Notas

[1] Robalo, Cristina, Paixão, Pedro A. H. (2019), Pela bruma dentro. Conversa com Cristina Robalo em torno do desenho, Lisboa : Documenta, p.9.

 

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Mais informação sobre esta edição das Millennium Art Talks aqui.