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Que a Fundação de Serralves é um caso de êxito, é um facto da ordem das evidências. Isso deve-se às condições institucionais enquanto parceria do Estado com privados, à sua localização ligada à Casa de Serralves e aos seus jardins, à política de programação e aos elevados níveis de adesão pública que tem suscitado, ainda agora confirmados pelos mais de 120.000 visitantes da exposição “Robert Rauschenberg: Em Viagem 70-76”.
(Relembro, a propósito, que a ex-ministra da Cultura de má memória, Isabel Pires de Lima, tinha anunciado como objectivos para a sua “jóia da coroa”, a balofa e medíocre exposição do Hermitage, ultrapassar o número de visitantes das exposições de Amadeo de Souza-Cardoso na Gulbenkian e de Paula Rego em Serralves; não só o número, um pouco acima dos 100.000, ficou longe dos 157.000 respeitantes à de Paula Rego, como afinal a de Rauschenberg tem também mais visitantes – mesmo nesta lógica altamente mediatizada de “sucesso” por vezes ainda há notícias reconfortantes).

Se Serralves é um paradigma, e de primordial importância no tecido cultural português, há a atender que é contudo, a todos os títulos, um caso de excepção, longe de representar de um estado exponencional – designadamente de investimento mecenático – a que não correspondem na realidade outros níveis de menor dimensão devidamente sustentados. Esta situação pode ser entendida como motivo de particulares responsabilidades (é-o certamente) mas também de pressões – “O sucesso de uma instituição cultural está associado ao êxito mediático e a uma boa adesão do público. E isso acaba por criar condicionamentos de acção”, afirmava há algum tempo o próprio director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, João Fernandes, num colóquio, “Quanto custa a Cultura?”, promovido pela Universidade do Porto (“Jornal de Notícias” de 21-11-07). E tem também sido fonte de repetidas solicitações no sentido de transportar “a marca de Serralves”, com o seu estatuto de prestígio e peso institucional.
De acordo com os estatutos, “A Fundação de Serralves é uma instituição cultural de âmbito europeu ao serviço da comunidade nacional, que tem como missão sensibilizar o público para a arte contemporânea e o ambiente, através do Museu de Arte Contemporânea como centro pluridisciplinar, do Parque como património natural vocacionado para a educação e a animação ambientais e do Auditório como centro de reflexão e debate sobre a sociedade contemporânea”. Há pois que frisar que a missão estatutária é a de “serviço à comunidade nacional”, mas não menos está claramente expresso que esse objectivo se cumpre pelas actividades e património do Museu, do Parque e do Auditório.

Sucede que temos vindo a assistir, sob a direcção do muito dinâmico Presidente da Fundação, António Gomes de Pinho (ele próprio ex-secretário de Estado da Cultura), a uma profusão e disseminação de actividades, que não só se arrisca a descaracterizar o fundamental da instituição, nos termos estatutariamente consignados, como começa a ser um inquietante sinal de uma incapacidade de devidamente ponderar as diversas solicitações, inclusive legitimando políticas e práticas de graves consequências culturais.
Por exemplo, e como é notório, o ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho, tem afirmado as suas pretensões na área cultural (e não apenas na sua arte de eleição pessoal, a fotografia), bem como uma vultuosa propensão para o “marketing” em termos que chegam a ser caricatos. Escapa-me de todo que o entendimento de “serviço da comunidade nacional” justifique o envolvimento de Serralves no projecto “Allgarve”, com quatro exposições aí apresentadas no verão passado. Mais preocupante ainda, mesmo grave, é o protocolo com a Câmara Municipal de Coimbra desde que aí foi instalado o Pavilhão de Portugal para a Feira de Hanôver, obra de Siza Vieira e Souto Moura.

Na opinião publicada em Portugal existe uma forte hostilidade à criação cultural, aos apoios a essa criação e às estruturas vocacionadas para a arte contemporânea nos seus diferentes campos, há uma estigmatização dos pretensos “subsídiodependentes” que toca mesmo as raias do delírio, e de que o principal expoente e manipulador é Pacheco Pereira (só a pura cegueira pode “explicar” que, por exemplo, a propósito da crise na Câmara de Lisboa tenho escrito isto: “O único exemplo a seguir é o de Rui Rio. Apareça alguém a dizer que vai seguir o exemplo do Porto, ouça-se o ‘espernear’ dos animadores culturais a dizer que o ‘contabilista’ está a matar a ‘cidade’, e Lisboa pode vir a ser finalmente governável” – “Sábado”, 10-05-07).
Desde logo pelo gravoso exemplo do Porto e da gestão de Rui Rio, o autarca de estimação de Pacheco Pereira, os responsáveis de Serralves não podem desconhecer quanto grande parte dos problemas reais das actividades culturais em Portugal se radicam na falta de empenhamento e de investimento de autarquias – algumas das quais até podem querer ter também um museu ou um centro de arte (e a colaboração de Serralves até), mas sem a menor ideia de como concretamente o preencher e gerir.

Com menor impacto mediático nacional que a aguerrida e controversa gestão de Rio, a situação em Coimbra não é menos alarmante, com um continuado desinvestimento orçamental na cultura, e um vereador, Mário Mendes Nunes, que é mesmo um caso caricato de provincianismo (vale a pena visitar www.marionunesdixit.blogspot.com, uma verdadeira antologia de “pérolas de cultura” como esta “Nós (eu) sempre nos orgulhámos das nossas origens provincianas e é com respeito e honra que sublinhamos ser Coimbra uma lição para todo o Mundo” – “para todo o Mundo”!). Esta política tem tido os mais gravosos efeitos para as estruturas existentes, como o Centro de Artes Plásticas e o Centro de Artes Visuais, inclusive no incumprimento pela Câmara de protocolos firmados.
Só a endémica ausência de uma efectiva “comunidade artística” e um reconhecimento pelo trabalho de Serralves que se confunde com a reverência intimidada, podem explicar que a objectiva “cobertura” de tão danosa situação, que o acordo da Fundação com a edilidade tem vindo a constituir, não tenho ainda sido objecto de uma pública e cívica questionação.
Neste quadro, é de particular infelicidade a abertura da nova exposição, de José Pedro Croft, no momento em que surgiu um movimento cívico, “Coimbra – Pelo Direito à Cultura e pelo Dever de Cultura” (www.amigosdacultura2008.blogspot.com). É também Serralves que, de outro modo, se está a eximir ao seu dever, no entendimento de “serviço da comunidade nacional”.
Noutra ordem de debate, não deixa também de ser questionável o projecto “IN Serralves”, lançado conjuntamente com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, visando criar no espaço da Fundação “uma incubadora de indústrias criativas”.

A questão é, desde logo, de outra ordem de debate porque, muito para além do caso particular desta iniciativa, há equívocos que se estão a gerar também com a crescente importância económica de iniciativas e redes culturais. Desde logo há que destrinçar “arte” e “cultura”, pois que nem todos os factos culturais (longe disso) são da ordem da experiência estética, e se as economias da cultura têm uma importância cada vez maior (e nessas se incluem igualmente as consequências económicas de “inputs” propriamente artísticos) ainda uma outra coisa são as indústrias criativas, em que das base tecnológica são também de primordial importância. Contudo as equivalências e confusões vêm-se estabelecendo (assim, por exemplo, o mais recente projecto do galerista Luís Serpa, “O Fascínio de Ulisses”, tentando também pensar Lisboa como “uma plataforma transcultural para o século XXI”, pretende relacionar-se com um “think tank” a realizar na cidade sobre cidades e indústrias criativas”).

Há um importante “know how” constituído em Serralves e é compreensível mesmo, do ponto de vista cívico, confirmada a crescente subalternização da Região Norte, que a Fundação possa ter entendido dar este outro contributo. Mas aquele, fundamental e insubstituível, tem sido o do dinamismo das suas actividades próprias e o importantíssimo pólo artístico e cultural que constitui – indústrias criativas são outra coisa que não se enquadram na sua missão estatutária, e que lhe podem inclusive vir a criar condicionamentos de acção.
Por todas estas questões, também há razões para perguntar: o que faz correr Serralves?


Nota – Tenho colaborado e tenho colaborações em curso com a Fundação de Serralves.


Augusto M. Seabra