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PAIXÃO, FICÇÃO E DINHEIRO SEGUNDO ALAIN BADIOU

ALAIN BADIOU

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O dinheiro foi bem definido por Marx como um equivalente geral. O dinheiro é equivalente a qualquer outra coisa. Isto é o que faz com que exista a paixão pelo dinheiro. Essa paixão pelo dinheiro substitui a paixão por todas as coisas que desejamos. É como se o dinheiro se pusesse diante das coisas que queremos e fosse o meio para satisfazer qualquer desejo.

O amor ao dinheiro é também uma paixão por um objeto de desejo que não está realmente definida, é algo que aparece como um desejo vago, um desejo geral e para chamá-lo de alguma forma: um desejo “infinito”. Esta é a razão pela qual o dinheiro funciona como um substituto.

Isto origina necessariamente violência porque esse desejo indeterminado, que é ao mesmo tempo absoluto e geral, é um desejo que conduz a um regime de concorrência. A sociedade tem outras coisas, simultaneamente e de um modo necessário, é regulada pela concorrência. O dinheiro é o que organiza a violência da competição. Por quê? Naturalmente, entre a violência que reina entre os seres humanos e o dinheiro, há uma conexão direta. Afinal de contas, desde sempre, matamos principalmente por dinheiro.

A linguagem do dinheiro pretende não ter limites, essa é a razão pela qual é uma linguagem doida. É uma linguagem que apresenta um mundo que carece de limites, um mundo de desejos ilimitados. Na verdade, o dinheiro chama dinheiro. O dinheiro é algo que sempre exige mais dinheiro. Por esta razão, os ricos nunca são suficientemente ricos. É certo: os ricos nunca são suficientemente ricos, porque não se trata de ter dinheiro, eles querem “mais dinheiro”, e este é um desejo sem fim. E sendo um desejo ilimitado, poderíamos dizer que, na realidade, não constrói um mundo real. Há uma razão para dizer que o limite de uma linguagem é igualmente o limite do mundo e se a linguagem pretende não ter limites então é como se o mundo também não os tivesse: então o mundo funde-se como mundo, desfaz-se. Em suma, a paixão pelo dinheiro é uma paixão abstrata, não uma paixão que visa alcançar algo concreto. E isto também está na origem do problema.

No mundo capitalista, as ficções dominantes são aquelas que de uma forma ou de outra estão relacionadas com o domínio do dinheiro. Estas ficções são construídas em torno da questão do desejo ilimitado e da concorrência. Elas dizem-nos como o dinheiro desencadeia paixões, crimes, a possibilidade do amor, a traição, e assim por diante. São as paixões de um desejo ilimitado. Penso que se queremos regressar a mundo verdadeiro, o que implica admitir os limites da linguagem e que saibamos usar a ficção ao serviço da verdade e não ao serviço do desejo ilimitado, então precisamos de mudar a ficção, isso é certo.

Necessitamos de mudar a ficção, isso é algo muito importante. É importante e diria que poderia ser o grande desafio dos artistas contemporâneos. A responsabilidade dos artistas contemporâneos é a de propor uma nova ficção. Não é fácil porque ao princípio as novas ficções não são reconhecíveis. Elas são estranhas num mundo dominado pela concorrência e pelo dinheiro. A criação de novas formas de ficção e de novos modos de criar ficção é de extrema importância.

É fundamental que a relação entre as pessoas não ocorra dentro de um modelo competitivo. Esse é o primeiro ponto. Por que não no modelo competitivo? É claro que é necessário estar inserido no modelo de dinheiro que está atualmente em circulação. Então, como poderia haver uma relação não-competitiva entre os homens e entre o homem e a mulher? Obviamente, existe o “amor”, mas poderia ser um pouco violento como solução, porque não podemos amar absolutamente. É verdade que a religião diz: “Amai-vos uns aos outros como a ti mesmo”, mas isso é um pouco difícil se tomamos o amor num sentido profundo. Penso que precisamos de deixar o “amor” com o seu significado excecional, o seu significado relacionado com uma verdade profunda que é partilhada entre duas pessoas. Pelo contrário, eu acho que podemos ter relações a que chamaria amigáveis; uma relação de amizade que não é exatamente a da paixão amorosa, mas que é uma relação que permite que o outro se aproxime, comparta, e que não esteja imediatamente dominada pelo juízo, a condenação e a competição. Proponho um certo tipo de amizade universal.

Penso que uma maneira diferente de regular o comércio, e que seria uma alternativa à atual, pode ser imaginada. Em particular, há muitas possibilidades de intercâmbio direto de objetos bens, etc. que são abandonados. Esta é uma sociedade de enorme desperdício. Já que a posse de objetos é sempre privada isso supõe um desperdício colossal. Na verdade, o número de coisas que uma pessoa acumula e nunca usa é enorme. Isso preocupa-nos a todos. Eu mesmo poderia dar ou doar as minhas coisas a alguém ou fazer outra coisa. A sociedade não só regula as trocas e a competição pelo dinheiro, mas também organiza o desperdício. O que é necessário é uma organização amigável das trocas, que seriam realizadas de outra forma. Claro que se eu tivesse uma ideia completa e definitiva sobre isso já a teria anunciado. Trata-se de uma questão muito difícil, muito delicada que levaria muito tempo. No entanto, estou convencido de que o intercâmbio desenvolvido e entendido de um modo massivo – um intercâmbio não monetário – seja possível. Sociedades inteiras praticaram trocas não monetárias. Eram menores do que a nossa, tudo bem, mas nós poderíamos certamente resolver os problemas de organização dos intercâmbios não-monetários a larga escala.

Existem projetos utópicos de moedas provisórias, úteis num determinado momento e que não podem ser acumuladas. Estas moedas servem somente para esse intercâmbio mas não podem existir no capitalismo porque não são capitalizáveis. É verdade, mas já que hoje a capitalização ocorre através de um simples clique de computadores, o desaparecimento da moeda não iria resolver o nosso problema. A memória do computador teria também que desaparecer.

A Internet é um meio técnico que pode servir para fazer o bem ou o mal, por si só não decide nada. A Internet é algo que já está a repetir massivamente as ditaduras baseadas no comércio financeiro, mas também é útil para a comunicação entre as pessoas, para manifestações políticas, etc. Serve para tudo, e eu acho que nós poderíamos, e realmente deveríamos, tirar proveito dos seus pontos fortes. Mas a Internet não vai dizer-nos como fazê-lo, somos nós que devemos criar esses mecanismos.

Neste momento as organizações internacionais estão condicionadas por uma visão dominante que não é outra senão a do poder. Não têm um programa realmente ditado por uma nova visão de mundo. Os programas existentes são programas de caridade – é o que são –, há uma ligeira redistribuição das necessidades vitais dos pobres. Esta tem sido sempre uma parte do capitalismo, a caridade capitalista. No século XIX existia a senhora burguesa que dava coisas aos pobres. Naquela época isso sustentava-se na religião, agora temos organizações internacionais, mas sempre se tratou mais ou menos do mesmo.

Penso que podemos reconstruir um mundo onde a paixão e a felicidade são orientadas para a verdade. Especialmente para a conceção que proponho de verdade. A verdade é aquilo que somos capazes de criar, de inventar. Assim, possa ser essa a paixão da humanidade: a invenção, a criação e o partilhar a criação. Espero que seja possível. Muito mais do que a paixão pela acumulação e pela competição. Por que é que as más paixões são mais importantes do que as boas? Não há resposta para isso. A sociedade está organizada em torno do dinheiro e da competição. Se estivesse organizada de outra forma, veríamos – é algo que já podemos ver em círculos mais pequenos e em pequenas sociedades – como a criação, a invenção, poderiam ser coisas mais importantes e mais felizes.


Original: OCCIDENTE: TESTIMONIOS, VISIONES y UTOPÍA, em occidentetv.com
Via: salonkritik.net/10-11/2013/08/la_pasion_ficcional_del_dinero.php#more