Links

ENTREVISTA


JPR+JRGM no Festival de Locarno


Manhã de Santo António (2012) de João Pedro Rodrigues.


Santo António de João Pedro Rodrigues.


Santo António de João Rui Guerra da Mata.

Outras entrevistas:

FERNANDO SANTOS



FABÍOLA PASSOS



INÊS TELES



LUÍS ALVES DE MATOS E PEDRO SOUSA



PAULO LISBOA



CATARINA LEITÃO



JOSÉ BRAGANÇA DE MIRANDA



FÁTIMA RODRIGO



JENS RISCH



ISABEL CORDOVIL



FRANCISCA ALMEIDA E VERA MENEZES



RÄ DI MARTINO



NATXO CHECA



TERESA AREGA



UMBRAL — ooOoOoooOoOooOo



ANA RITO



TALES FREY



FÁTIMA MOTA



INÊS MENDES LEAL



LUÍS CASTRO



LUÍSA FERREIRA



JOÃO PIMENTA GOMES



PEDRO SENNA NUNES



SUZY BILA



INEZ TEIXEIRA



ABDIAS NASCIMENTO E O MUSEU DE ARTE NEGRA



CRISTIANO MANGOVO



HELENA FALCÃO CARNEIRO



DIOGO LANÇA BRANCO



FERNANDO AGUIAR



JOANA RIBEIRO



O STAND



CRISTINA ATAÍDE



DANIEL V. MELIM _ Parte II



DANIEL V. MELIM _ Parte I



RITA FERREIRA



CLÁUDIA MADEIRA



PEDRO BARREIRO



DORI NIGRO



ANTÓNIO OLAIO



MANOEL BARBOSA



MARIANA BRANDÃO



ANTÓNIO PINTO RIBEIRO E SANDRA VIEIRA JÜRGENS



INÊS BRITES



JOÃO LEONARDO



LUÍS CASTANHEIRA LOUREIRO



MAFALDA MIRANDA JACINTO



PROJECTO PARALAXE: LUÍSA ABREU, CAROLINA GRILO SANTOS, DIANA GEIROTO GONÇALVES



PATRÍCIA LINO



JOANA APARÍCIO TEJO



RAÚL MIRANDA



RACHEL KORMAN



MÓNICA ÁLVAREZ CAREAGA



FERNANDA BRENNER



JOÃO GABRIEL



RUI HORTA PEREIRA



JOHN AKOMFRAH



NUNO CERA



NUNO CENTENO



MEIKE HARTELUST



LUÍSA JACINTO



VERA CORTÊS



ANTÓNIO BARROS



MIGUEL GARCIA



VASCO ARAÚJO



CARLOS ANTUNES



XANA



PEDRO NEVES MARQUES



MAX HOOPER SCHNEIDER



BEATRIZ ALBUQUERQUE



VIRGINIA TORRENTE, JACOBO CASTELLANO E NOÉ SENDAS



PENELOPE CURTIS



EUGÉNIA MUSSA E CRISTIANA TEJO



RUI CHAFES



PAULO RIBEIRO



KERRY JAMES MARSHALL



CÍNTIA GIL



NOÉ SENDAS



FELIX MULA



ALEX KATZ



PEDRO TUDELA



SANDRO RESENDE



ANA JOTTA



ROSELEE GOLDBERG



MARTA MESTRE



NICOLAS BOURRIAUD



SOLANGE FARKAS



JOÃO FERREIRA



POGO TEATRO



JOSÉ BARRIAS



JORGE MOLDER



RUI POÇAS



JACK HALBERSTAM



JORGE GASPAR e ANA MARIN



GIULIANA BRUNO



IRINA POPOVA



CAMILLE MORINEAU



MIGUEL WANDSCHNEIDER



ÂNGELA M. FERREIRA



BRIAN GRIFFIN



DELFIM SARDO



ÂNGELA FERREIRA



PEDRO CABRAL SANTO



CARLA OLIVEIRA



NUNO FARIA



EUGENIO LOPEZ



ISABEL CARLOS



TEIXEIRA COELHO



PEDRO COSTA



AUGUSTO CANEDO - BIENAL DE CERVEIRA



LUCAS CIMINO, GALERISTA



NEVILLE D’ALMEIDA



MICHAEL PETRY - Diretor do MOCA London



PAULO HERKENHOFF



CHUS MARTÍNEZ



MASSIMILIANO GIONI



MÁRIO TEIXEIRA DA SILVA ::: MÓDULO - CENTRO DIFUSOR DE ARTE



ANTON VIDOKLE



TOBI MAIER



ELIZABETH DE PORTZAMPARC



DOCLISBOA’ 12



PEDRO LAPA



CUAUHTÉMOC MEDINA



ANNA RAMOS (RÀDIO WEB MACBA)



CATARINA MARTINS



NICOLAS GALLEY



GABRIELA VAZ-PINHEIRO



BARTOMEU MARÍ



MARTINE ROBIN - Château de Servières



BABETTE MANGOLTE
Entrevista de Luciana Fina



RUI PRATA - Encontros da Imagem



BETTINA FUNCKE, editora de 100 NOTES – 100 THOUGHTS / dOCUMENTA (13)



JOSÉ ROCA - 8ª Bienal do Mercosul



LUÍS SILVA - Kunsthalle Lissabon



GERARDO MOSQUERA - PHotoEspaña



GIULIETTA SPERANZA



RUTH ADDISON



BÁRBARA COUTINHO



CARLOS URROZ



SUSANA GOMES DA SILVA



CAROLYN CHRISTOV-BAKARGIEV



HELENA BARRANHA



MARTA GILI



MOACIR DOS ANJOS



HELENA DE FREITAS



JOSÉ MAIA



CHRISTINE BUCI-GLUCKSMANN



ALOÑA INTXAURRANDIETA



TIAGO HESPANHA



TINY DOMINGOS



DAVID SANTOS



EDUARDO GARCÍA NIETO



VALERIE KABOV



ANTÓNIO PINTO RIBEIRO



PAULO REIS



GERARDO MOSQUERA



EUGENE TAN



PAULO CUNHA E SILVA



NICOLAS BOURRIAUD



JOSÉ ANTÓNIO FERNANDES DIAS



PEDRO GADANHO



GABRIEL ABRANTES



HU FANG



IVO MESQUITA



ANTHONY HUBERMAN



MAGDA DANYSZ



SÉRGIO MAH



ANDREW HOWARD



ALEXANDRE POMAR



CATHERINE MILLET



JOÃO PINHARANDA



LISETTE LAGNADO



NATASA PETRESIN



PABLO LEÓN DE LA BARRA



ESRA SARIGEDIK



FERNANDO ALVIM



ANNETTE MESSAGER



RAQUEL HENRIQUES DA SILVA



JEAN-FRANÇOIS CHOUGNET



MARC-OLIVIER WAHLER



JORGE DIAS



GEORG SCHÖLLHAMMER



JOÃO RIBAS



LUÍS SERPA



JOSÉ AMARAL LOPES



LUÍS SÁRAGGA LEAL



ANTOINE DE GALBERT



JORGE MOLDER



MANUEL J. BORJA-VILLEL



MIGUEL VON HAFE PÉREZ



JOÃO RENDEIRO



MARGARIDA VEIGA




JOÃO PEDRO RODRIGUES E JOÃO RUI GUERRA DA MATA


A carreira em cinema de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata passa pela co-realização de um universo que tem assumido um vínculo cada vez maior com o Oriente. A cumplicidade estética dos dois realizadores é agora pela primeira vez partilhada nas artes plásticas. A dupla foi desafiada a expor no Mimesis Art Museum, na Coreia do Sul. A exposição Santo António, criada a partir de um filme, inaugurou a 26 de novembro.

Por Carla Henriques


>>>>>>>>>



P: Como surgiu o convite para apresentarem uma exposição conjunta?

JPR: A proposta para realizarmos uma exposição, apresentada pelo Mimesis Art Museum (desenhado pelo arquiteto Siza Vieira) na cidade de Paju Book City, e pela Embaixada de Portugal em Seul, foi uma surpresa. Nos últimos anos temos ido com alguma regularidade à Coreia do Sul, aos Festivais de Busan e de Jeonju apresentar filmes e, no meu caso, participar como membro do júri em Jeonju.

JRGM: Embora o desafio lançado tenha sido surpreendente, julgo que o convite surgiu porque pensaram que poderíamos desenvolver um projeto que ultrapassasse as fronteiras do cinema para as artes plásticas, talvez depois de termos realizado A Última vez que vi Macau e também das nossas últimas curtas-metragens, que são trabalhos mais experimentais, uma vez que temos aproveitado esse formato (curto) para ensaiar outras formas de contar histórias.



P: E o que é que vão apresentar?

JPR: No ano passado realizei a curta-metragem Manhã de Santo António, que estreou na sessão de encerramento da “Semaine de la Critique” do Festival de Cannes. É um filme que fiz integrado num projeto artístico para Le Fresnoy, uma Escola de Arte Contemporânea no norte de França, onde dei aulas no ano letivo de 2010/11. Como é, de alguma forma, uma curta-metragem um pouco mais abstrata que os meus filmes anteriores, mais próxima, talvez, de outras disciplinas como a dança, achei que seria interessante transformá-la numa instalação. Chamei a Mariana Gaivão, que já tinha montado comigo o filme, e fizemos uma montagem completamente diferente, usando mais material e imagens que não entraram na curta-metragem. A instalação tem 19,5 minutos e é projetada em simultâneo em quatro ecrãs. São quatro filmes diferentes, o que torna o projeto quase numa longa-metragem. Manhã de Santo António conta o regresso a casa de 40 jovens, rapazes e raparigas, que saem na noite de Santo António e, já de madrugada, apanham o primeiro metro da manhã, descendo na estação de Alvalade. O filme acompanha os vários percursos destas personagens, a geometria do seu andar - todos divergem do mesmo centro que é a Praça de Alvalade e a grande estátua de Santo António, erguida durante o Estado Novo e têm percursos mais ou menos inesperados. O filme é uma reflexão sobre a ideia de movimento, a repetição coreográfica, a forma como as pessoas andam. Quais são as diferentes maneiras de cada um caminhar? A instalação explora ainda mais esse lado da repetição, que agora é conjugada nos quatro ecrãs que interagem uns com os outros.

JRGM: O meu projeto passa por desenhos a tinta da China, de pequena dimensão, e vai complementar a instalação do João Pedro. Desenho há muito tempo, é um trabalho que tem evoluído com os anos. Considerámos que teria interesse complementar a instalação com este meu projeto que apresenta detalhes das personagens do Manhã de Santo António. No filme e também na instalação as personagens são vistas quase sempre de costas. Há sempre um determinado ponto de vista que só é revelado no final, quando finalmente se percebe quem é que está a olhar. No meu caso, as personagens estão sempre de frente, de alguma forma os desenhos revelam o que no filme vemos de costas, atores e membros da equipa.



P: Este projeto do Mimesis Art Museum acaba por ser uma extensão do que têm realizado em cinema.

JRGM: Sou art diretor / production designer, portanto toda esta ideia do desenho acaba por me acompanhar. Seja desenhar décors, espaços, guarda-roupa, no fundo, pensar um filme em temos visuais, mas agora num suporte diferente do filmado, como quando se prepara esse mesmo filme. Considero, por isso, que este projeto para a Coreia do Sul acaba por ser quase uma extensão do que tenho criado no cinema.

JPR: Para mim é como se o filme que realizei, o Manhã de Santo António tivesse “desaguado” nesta instalação. À partida não pensei que poderia resultar nisto, mas depois de trabalhar o projeto parece-me quase natural e orgânico.



P: O vosso trabalho cinematográfico tem sido extremamente acompanhado não só na Coreia do Sul, mas também no Japão e na China através de Macau e Hong Kong. Além de uma relação profissional vocês têm uma ligação afetiva com estes países?

JPR: Ainda na Escola Superior de Cinema, o Paulo Rocha introduziu-me ao cinema asiático, principalmente o japonês. Por exemplo, a curta-metragem de minuto e meio que realizei a convite do Festival de Veneza para comemorar os seus 70 anos, intitulada Allegoria della Prudenza, é também uma homenagem ao Paulo Rocha (que morreu no final do ano passado) e ao Oriente. Allegoria della Prudenza começa com os dois túmulos onde está sepultado o realizador japonês Kenji Mizoguchi, um em Tóquio e outro em Quioto. Imaginei que a urna onde estão guardadas as cinzas de Paulo Rocha, que repousa num jazigo em Ovar, seria uma espécie de terceiro túmulo, como se ambos fizessem parte do mesmo corpo cinematográfico. Sinto que aprendi muito com o cinema oriental. E há também a relação do João Rui com a Ásia e com Macau, onde viveu parte da sua infância.

JRGM: A ligação afetiva passa pela minha vivência em Macau e pela forma como contagiei o João Pedro com essa paixão que sempre tive pelo Oriente. O facto de lá ter vivido, foi o ponto de partida para a nossa longa-metragem, A Última vez que vi Macau, que estreou recentemente nos Estados Unidos com a última curta que realizámos juntos já este ano, Mahjong. O João Pedro conhecia Macau através das minhas memórias e relatos. Rodámos o filme com base nessas histórias, reinventando uma cidade que existe e não existe, entre o film noir e o thriller, o documentário e a ficção. E quando vamos a qualquer cidade, na Europa ou na América, uma das primeiras coisas que fazemos é ir descobrir a Chinatown, nem que seja só para irmos fazer as refeições em novos restaurantes asiáticos.



P: Há uma perceção diferente do vosso trabalho nesses países do que no Ocidente?

JPR: É sempre difícil fazer essa distinção porque acabamos por ter perceções individuais do que cada pessoa nos diz sobre o nosso trabalho. No entanto, é certo que nos Festivais do Oriente há um grande entusiasmo pelo cinema e não só com o nosso, mas com o cinema em geral. No caso da Coreia do Sul, há uma energia que se sente. Em relação aos nossos filmes, tanto no Festival de Busan, que é o maior festival asiático, como no de Jeonju, o público é muito interessado e carinhoso.

JRGM: Os nossos filmes têm viajado por todo o mundo, mas no Japão foram “descobertos” recentemente através da retrospetiva itinerante que decorreu no início deste ano, organizada pelo crítico Shinsuke Ohdera, e que acompanhámos em Tóquio, Osaka e noutras cidades japonesas. É curioso, não sabemos explicar muito bem o porquê deste entusiasmo, se é a forma como os filmes são feitos, se a temática… E é interessante pensar que hoje o Pedro Costa é muito reconhecido no Japão, quase que poderíamos dizer que é venerado.

JPR: Quando houve a retrospetiva em Tóquio, mostraram a minha primeira longa-metragem O Fantasma, mas só a puderam exibir uma vez. O filme tem sexo explícito, o que é proibido mostrar no Japão. A sala estava completamente a abarrotar e houve gente que não consegui entrar. Soubemos depois que a polícia ameaçou os organizadores de que se voltassem a exibir o filme seriam detidos. Nem acho que essas sejam as cenas mais importantes, queria mostrar uma certa crueza das relações físicas e das emoções. Houve um enorme debate a seguir, a questão central para eles era a dureza do filme, e o sexo explícito era tido como um ato de coragem da minha parte, por o filmar sem tabus. Tentei explicar o porquê de filmar dessa forma, que na altura era a única forma “justa” para transmitir determinadas emoções. Acho que no Oriente, pelo menos em determinados meios artísticos, as pessoas procuram no cinema e também nas outras artes, coisas que sejam únicas, que é também o que me interessa: perceber que há realizadores que fazem filmes e exprimem emoções de uma forma que é só deles. O que nos dizem é que os nossos filmes são assim.


::::::::