Links

ENTREVISTA


Cristiano Mangovo. © Franca Franchi


Cristiano Mangovo no seu estĂșdio. Imagem cortesia do artista.


Vista do atelier em Lisboa.


Cristiano Mangovo no atelier em Lisboa.


Angel of fertility. Acrílico sobre tela, 200x200 cm.


Fome. Acrílico sobre tela, 100x100 cm.


Dragon Vs Mwana Mpwo. Acrílico sobre tela, 135x200 cm.


Vista da exposição Humano e a Natureza, 2021. Cortesia Afikaris Gallery, Paris.


Vista da exposição Humano e a Natureza, 2021. Cortesia Afikaris Gallery, Paris.


Vista da exposição Humano e a Natureza, 2021. Cortesia Afikaris Gallery, Paris.


Vista da exposição Humano e a Natureza, 2021. Cortesia Afikaris Gallery, Paris.


Cabeça erguida. Escultura de ferro e material reciclado, 35x95x27 cm. Imagem cortesia do artista.


Incarnação. Escultura em material reciclado, 88x187 cm. Imagem cortesia do artista.

Outras entrevistas:

AIDA CASTRO E MARIA MIRE



TITA MARAVILHA



FERNANDO SANTOS



FABÍOLA PASSOS



INÊS TELES



LUÍS ALVES DE MATOS E PEDRO SOUSA



PAULO LISBOA



CATARINA LEITÃO



JOSÉ BRAGANÇA DE MIRANDA



FÁTIMA RODRIGO



JENS RISCH



ISABEL CORDOVIL



FRANCISCA ALMEIDA E VERA MENEZES



RÄ DI MARTINO



NATXO CHECA



TERESA AREGA



UMBRAL — ooOoOoooOoOooOo



ANA RITO



TALES FREY



FÁTIMA MOTA



INÊS MENDES LEAL



LUÍS CASTRO



LUÍSA FERREIRA



JOÃO PIMENTA GOMES



PEDRO SENNA NUNES



SUZY BILA



INEZ TEIXEIRA



ABDIAS NASCIMENTO E O MUSEU DE ARTE NEGRA



HELENA FALCÃO CARNEIRO



DIOGO LANÇA BRANCO



FERNANDO AGUIAR



JOANA RIBEIRO



O STAND



CRISTINA ATAÍDE



DANIEL V. MELIM _ Parte II



DANIEL V. MELIM _ Parte I



RITA FERREIRA



CLÁUDIA MADEIRA



PEDRO BARREIRO



DORI NIGRO



ANTÓNIO OLAIO



MANOEL BARBOSA



MARIANA BRANDÃO



ANTÓNIO PINTO RIBEIRO E SANDRA VIEIRA JÜRGENS



INÊS BRITES



JOÃO LEONARDO



LUÍS CASTANHEIRA LOUREIRO



MAFALDA MIRANDA JACINTO



PROJECTO PARALAXE: LUÍSA ABREU, CAROLINA GRILO SANTOS, DIANA GEIROTO GONÇALVES



PATRÍCIA LINO



JOANA APARÍCIO TEJO



RAÚL MIRANDA



RACHEL KORMAN



MÓNICA ÁLVAREZ CAREAGA



FERNANDA BRENNER



JOÃO GABRIEL



RUI HORTA PEREIRA



JOHN AKOMFRAH



NUNO CERA



NUNO CENTENO



MEIKE HARTELUST



LUÍSA JACINTO



VERA CORTÊS



ANTÓNIO BARROS



MIGUEL GARCIA



VASCO ARAÚJO



CARLOS ANTUNES



XANA



PEDRO NEVES MARQUES



MAX HOOPER SCHNEIDER



BEATRIZ ALBUQUERQUE



VIRGINIA TORRENTE, JACOBO CASTELLANO E NOÉ SENDAS



PENELOPE CURTIS



EUGÉNIA MUSSA E CRISTIANA TEJO



RUI CHAFES



PAULO RIBEIRO



KERRY JAMES MARSHALL



CÍNTIA GIL



NOÉ SENDAS



FELIX MULA



ALEX KATZ



PEDRO TUDELA



SANDRO RESENDE



ANA JOTTA



ROSELEE GOLDBERG



MARTA MESTRE



NICOLAS BOURRIAUD



SOLANGE FARKAS



JOÃO FERREIRA



POGO TEATRO



JOSÉ BARRIAS



JORGE MOLDER



RUI POÇAS



JACK HALBERSTAM



JORGE GASPAR e ANA MARIN



GIULIANA BRUNO



IRINA POPOVA



CAMILLE MORINEAU



MIGUEL WANDSCHNEIDER



ÂNGELA M. FERREIRA



BRIAN GRIFFIN



DELFIM SARDO



ÂNGELA FERREIRA



PEDRO CABRAL SANTO



CARLA OLIVEIRA



NUNO FARIA



EUGENIO LOPEZ



JOÃO PEDRO RODRIGUES E JOÃO RUI GUERRA DA MATA



ISABEL CARLOS



TEIXEIRA COELHO



PEDRO COSTA



AUGUSTO CANEDO - BIENAL DE CERVEIRA



LUCAS CIMINO, GALERISTA



NEVILLE D’ALMEIDA



MICHAEL PETRY - Diretor do MOCA London



PAULO HERKENHOFF



CHUS MARTÍNEZ



MASSIMILIANO GIONI



MÁRIO TEIXEIRA DA SILVA ::: MÓDULO - CENTRO DIFUSOR DE ARTE



ANTON VIDOKLE



TOBI MAIER



ELIZABETH DE PORTZAMPARC



DOCLISBOA’ 12



PEDRO LAPA



CUAUHTÉMOC MEDINA



ANNA RAMOS (RÀDIO WEB MACBA)



CATARINA MARTINS



NICOLAS GALLEY



GABRIELA VAZ-PINHEIRO



BARTOMEU MARÍ



MARTINE ROBIN - ChĂąteau de ServiĂšres



BABETTE MANGOLTE
Entrevista de Luciana Fina



RUI PRATA - Encontros da Imagem



BETTINA FUNCKE, editora de 100 NOTES – 100 THOUGHTS / dOCUMENTA (13)



JOSÉ ROCA - 8ÂȘ Bienal do Mercosul



LUÍS SILVA - Kunsthalle Lissabon



GERARDO MOSQUERA - PHotoEspaña



GIULIETTA SPERANZA



RUTH ADDISON



BÁRBARA COUTINHO



CARLOS URROZ



SUSANA GOMES DA SILVA



CAROLYN CHRISTOV-BAKARGIEV



HELENA BARRANHA



MARTA GILI



MOACIR DOS ANJOS



HELENA DE FREITAS



JOSÉ MAIA



CHRISTINE BUCI-GLUCKSMANN



ALOÑA INTXAURRANDIETA



TIAGO HESPANHA



TINY DOMINGOS



DAVID SANTOS



EDUARDO GARCÍA NIETO



VALERIE KABOV



ANTÓNIO PINTO RIBEIRO



PAULO REIS



GERARDO MOSQUERA



EUGENE TAN



PAULO CUNHA E SILVA



NICOLAS BOURRIAUD



JOSÉ ANTÓNIO FERNANDES DIAS



PEDRO GADANHO



GABRIEL ABRANTES



HU FANG



IVO MESQUITA



ANTHONY HUBERMAN



MAGDA DANYSZ



SÉRGIO MAH



ANDREW HOWARD



ALEXANDRE POMAR



CATHERINE MILLET



JOÃO PINHARANDA



LISETTE LAGNADO



NATASA PETRESIN



PABLO LEÓN DE LA BARRA



ESRA SARIGEDIK



FERNANDO ALVIM



ANNETTE MESSAGER



RAQUEL HENRIQUES DA SILVA



JEAN-FRANÇOIS CHOUGNET



MARC-OLIVIER WAHLER



JORGE DIAS



GEORG SCHÖLLHAMMER



JOÃO RIBAS



LUÍS SERPA



JOSÉ AMARAL LOPES



LUÍS SÁRAGGA LEAL



ANTOINE DE GALBERT



JORGE MOLDER



MANUEL J. BORJA-VILLEL



MIGUEL VON HAFE PÉREZ



JOÃO RENDEIRO



MARGARIDA VEIGA




CRISTIANO MANGOVO


27/01/2022

 

 

De Cabinda a Kinshasa, de Luanda a Lisboa, ou de estudante de Pintura na Faculdade de Belas Artes de Kinshasa a vendedor de mercado em Luanda, o percurso de Cristiano Mangovo reflecte as especificidades e as dificuldades do contexto africano. Mas é aí também que reside a sua inspiração e a sua força.

Cristiano Mangovo recebeu-nos a meio de um dia de trabalho no seu atelier em Lisboa. Entre duas telas que se enfrentavam, falou-nos do seu percurso pessoal e artístico e da exposição “Humano e a Natureza”, que esteve patente até Dezembro passado na galeria Afikaris, em Paris. Em Lisboa, vamos poder ver a sua próxima exposição na Galeria Insofar, intitulada ''O Sistema'', cuja inauguração é já no dia 4 de Fevereiro, ficando patente até 30 de abril.


Por Liz Vahia

 

 

>>>

 


LV: Conta-nos como chegaste a Lisboa. Foi já decorrente do teu trabalho como artista?

CM: Sim. Consegui uma galeria aqui em Lisboa e para ter condições de entregar as obras, participar em projectos e workshops, pensei em mudar-me para cá. Outra razão foi a crise económica em Angola, que assolou o país em 2013, onde eu fui uma das pessoas que perderam as suas economias com a inflação da moeda. Isso também foi um facto que me levou a decidir vir viver para a Europa. Achei que assim daria mais estabilidade à minha vida. Eu não gosto de falhar, e apesar de saber que existem falhas, quando uma pessoa trabalha de forma organizada e é o país que nos provoca a queda, isso não me deixa bem comigo mesmo.

 

LV: Continuas em contacto com galerias em Luanda? Continuas a expôr lá?

CM: Continuo a expor lá e tenho galerias que estão em Angola e em Lisboa, por isso quando há projectos tento sempre participar.
Além disso, a minha inspiração está lá ainda e os laços de família também não acabaram. As minhas raízes e os temas continuam ligados a África.

 

LV: Vejo que os temas sócio-económicos africanos são um aspecto característico da tua obra. Continuas a chamar a atenção para esses temas.

CM: A minha base é África, as paisagens de África, as condições sociais de África. Mas não quero ficar num gueto, como estou fora de África e andei por vários países europeus, agora tento abranger isso a partir de um olhar daqui. Pois onde está o "ser humano" é onde mais me inspiro. Não há seres humanos só em África, há também na Ásia, na Europa, na América, e tudo isso é motivo de inspiração. Porque a injustiça não acontece só em África, a corrupção não só acontece em África. As violências, as desigualdades, não acontecem apenas em África. É onde está o ser humano. O ser humano é já um mundo, tem um universo dentro dele, do seu próprio “eu”. Onde há pessoas é onde eu ganho a maior parte da minha inspiração. Mas não só nas pessoas, também na natureza, nos animais... Tudo o que existe é já um motivo que me dá uma base, me inspira. O que acontece, o discurso das pessoas, a sua reacção... e tudo isto é um conteúdo que serve de inspiração ao meu trabalho.

 

LV: A propósito de Natureza, fala-nos da exposição que tiveste há pouco tempo em Paris, que tem a ver com esse aspecto do equilíbrio ecológico.

CM: O humano "é" natureza! Foi uma exposição cuja inspiração me veio do que aconteceu no mundo com a pandemia Covid-19, enquanto quase todos estavam em casa, presos. Eu, pessoalmente, passei mal, foi um tempo muito ruim da minha vida. Não fui o único que passei tempos ruins, de estar fechado, trancado numa espécie de cadeia, pois todos tínhamos a ansiedade de voltar à vida normal. Enquanto estava em casa, confinado, estava sempre atento às notícias, ao que estava a acontecer no mundo, e vi que os animais estavam livres, soltos, conseguiam aproveitar as praias, outras zonas que o ser humano sempre ocupou. Nisto comecei a aperceber-me que o ser humano ocupa muito lugar no mundo, de tal forma que abafa a natureza. Também a sensação que eu tive no momento do desconfinamento foi a alguém que estava preso e ganhou a liberdade. Quando sais para o ar livre, para a liberdade, sentes a vida, e a vida torna-se preciosa. Sentimos que o mundo é amplo, é maior, temos mais espaço para fazer movimentos, para dançar ao ar livre. Até se sente música!
Essa sensação de liberdade no desconfinamento veio até mim, e não fui só eu a sentir isso, o mundo todo sentiu a mesma coisa como eu a senti. Então comecei a pensar, a reflectir, como é que se poderiam sentir os animais que estão presos em celas, em zoológicos, em jaulas, os peixes nos aquários... como é que eles se sentem? Estão lá há meses, anos, décadas... Um animal sozinho numa jaula a vida toda, como é que essa situação é possível? Vive uma vida que não é digna e que não devia viver, separado de tudo, do seu ambiente. Então achei que o ser humano chegou muito longe. Eu sei que o ser humano tem pretensão de dominar a natureza, mas dominar não é castigar, dominar é respeitar, é valorizar também o outro. Tenho uma questão que sempre coloco a mim próprio e nos meus trabalhos: é preciso haver equilíbrio. Para ser forte será que é preciso desafiar alguém? Acho que não. Para ser forte é preciso segurar a outra pessoa, que é frágil e precisa que lhe dêem a mão, que a venham apoiar, a venham segurar. Não desafiar, mas segurar, apoiar. 

 

LV: Na tua pintura não me parece que haja só uma denuncia constante de um estado negativo, há essa procura de uma certa harmonia possível. Era isso que querias transmitir também nesta exposição?

CM: Sim. Quando pinto, eu penso que os outros ao olharem para as minhas pinturas entendem o que quero transmitir, mas se calhar não entendem. Fico surpreendido ao perguntarem-me o que eu quero dizer num determinado quadro que eu achava simples. 

 

LV: Li numa entrevista tua que te vias como um orador a quem faltavam as palavras para se expressar, por isso então este trabalho com a imagem. E que te sentias um “pequeno deus” quando estavas perante a tela. É curioso que a mensagem, que te parece simples de transmitir, às vezes não chega ao outro lado.

CM: Fiquei preocupado com isso. Não sei se é uma falha. Às vezes o público não chega a entender a minha intenção. Se calhar estão acostumados a ver um trabalho bem definido, a um estilo realista. Neste momento, para mim, não é um tempo de estar a pintar Arte Pop, um realismo tão puro como se vê no mundo ou como foi pintado nos séculos passados. Cada disciplina tem uma linguagem própria. O discurso de um artista será sempre diferente do de um cientista, de um político. Falar como um cientista, discursar como um político, é diferente da linguagem de uma pintura, porque a pintura não é um livro que o autor escreve. Num livro é possível descrever e explicar coisas, mas na arte só se apresentam as partes simbólicas, é atrás delas que se tem a “história”. Cada obra tem um código que pertence ao próprio artista, códigos chave que identificam o traço do artista. Talvez use muitos códigos nos meus trabalhos, que eu próprio também preciso de descodificar para entender. Isso é o que estou a tentar fazer nestas novas pinturas, porque a arte não é só para mim, é para o mundo, para passar uma mensagem, até para educar, ou para criticar, ou para dar mimo ou motivar, ressaltar uma coisa que eu acho que merece atenção. Assim, o fazer-me entender é importante para mim. 

 

LV: Vi que tinhas interesse também pela escultura. 

CM: Sim. Fiz a minha formação de artes plásticas em Pintura, na Escola de Belas Artes em Kinshasa, e fiz também workshops sobre cenografia urbana, performance, instalação. Nunca fiz nada relativo à escultura, mas cada vez que estava diante de uma obra de escultura achava que lhe faltava qualquer coisa. Não estou a criticar o trabalho dos outros, mas aquilo acabava por me inspirar a desenvolver uma coisa que tinha em mim, um interesse pela escultura que nem eu tinha ainda dado conta. Interagir com as peças dos outros fez sobressair aquela voz que gritava em mim. A vontade de fazer alguma coisa diferente daquela que via, foi como comecei a inclinar-me para a escultura. Não queria fazer igual ao que estava a ver, até porque o que eu estava a ver normalmente era escultura em madeira, e com a preocupação com a natureza, com o aquecimento global, de cada vez que estava diante de uma obra esculpida que usava um tronco de árvore, eu dizia "aqui morreu mais uma árvore!", só para agradar pela arte aos olhos das pessoas. Não tinha vontade de matar as árvores para criar obras. Eu faço escultura com resíduos, materiais descartados que encontro na rua quando ando a passear e vou recuperando para construir uma obra. Foi assim que comecei a andar nas ruas de Luanda a recolher carcaças, sucatas de motas, chapas, ferros, bidões, que encontrava no lixo e eu achava que podia transformar numa peça. Então comecei a montar uma série de esculturas com estes materiais descartados que foram expostas na Expo Milão 2015, no pavilhão de Angola. Até hoje faço sempre isso, embora não tanto agora porque não tenho espaço nem condições técnicas.
Acho que a arte é mais uma actividade, uma mensagem, com uma parte estética. Quando o artista consegue reunir esses elementos, aí nasce uma coisa.
O que me motivou também para tentar ser diferente dos outros foi, como disse, querer ser um pequeno deus para as minhas obras. Nelas, as coisas tornam-se fáceis para mim, porque ninguém virá ao meu mundo para criticar que este braço aqui nesta pintura é maior que este outro braço, ou que este dedo é mais espesso que este dedo aqui. Porque estes dedos seguram, por isso têm espessura! Quando pinto cada elemento, quero transmitir uma mensagem, expressar uma causa, dizer uma coisa. Queria ter um discurso diferente segundo o meu pensamento e diferente dos outros, criar no mundo um universo inteiro. E não entrar na linha, copiar ou reforçar o outro que já fez o mesmo trabalho. Tento fazer um novo discurso, trazer novos elementos, uma nova estética, um novo pensamento. Tento trazer sempre comigo a pergunta: "Porque é que fizeste isto? Porque é que isto está aqui?" É ali que começa um discurso de arte contemporânea, uma reflexão.

 

Cristiano Mangovo no seu estúdio em Luanda.

 

LV: Pensas-te herdeiro de alguma corrente artística, ou inserido nalgum estilo particular? Expressionismo, surrealismo... Ou isso são linguagens de que te vais apropriando consoante esse tal discurso que queres transmitir?

CM: As minhas pinturas são provavelmente uma mistura de surrealismo e expressionismo, sim. Eu pinto a partir do que serão as “verdades” da minha reflexão. Deixo-me levar quando a inspiração flui. Se é um novo discurso eu não sei, só sigo a inspiração. Talvez um historiador de arte possa dizer alguma coisa, ele tem um papel na critica sobre o trabalho do artista. Mas eu quero sentir-me livre na minha imaginação, criando o enquadramento que vai permitir que os elementos que eu uso sejam verdadeiros em relação a mim próprio e também ao meu pensamento. Depois, acho também que o que eu pinto em forma de personagens me reflectem de certa maneira. Fiz muito esforço para chegar onde estou hoje. Passei de Cabinda para o Congo, do Congo para Cabinda, de Cabinda para Luanda, de Luanda para Portugal, e foram passos com amor, dedicação, esforço. Cheguei a vender roupas no mercado com a minha tia. Estava quase a vender água na rua quando disse para mim "eu sou artista!". Tive que parar com aquela vida porque já não conseguia viver naquelas condições de estar aí a vender todos os dias. Mas vendi, passei por ali. O dinheiro que ganhava quando vendia em praças informais poupava para comprar material para começar a pintar. Por isso digo que construí um percurso com muita dedicação, energia e esforço, e percebi que a minha vida não foi tão cor de rosa assim, percebi que quando há dificuldades basta desistir um pouco para perder tudo, mas quem não desiste consegue ganhar o mundo. Tem é que se organizar, trabalhar, confiar, ser optimista, acreditar em tudo. Sei que não sou o único a passar por isto, porque nós todos passamos por algo parecido, pois em cada dia que vivemos temos a esperança que o amanhã será melhor. Todos nós com esforço chegamos a um patamar melhor, onde conseguimos dar apoio aos outros. É preciso esforço e amor e não ser egoísta, pensar em dar alegria aos outros.