Links

ENTREVISTA


Ana León no MAAT, 2025. Cortesia da artista.


Vista da exposição: Ana León, Gestos, 2025, MAAT. © Joana Linda / Cortesia MAAT.


Vista da exposição: Ana León, Gestos, 2025, MAAT. © Joana Linda / Cortesia MAAT.


Vista da exposição: Ana León, Gestos, 2025, MAAT. © Joana Linda / Cortesia MAAT.


Vista da exposição: Ana León, Gestos, 2025, MAAT. © Joana Linda / Cortesia MAAT.


Vista da exposição: Ana León, Gestos, 2025, MAAT. © Joana Linda / Cortesia MAAT.


Vista da exposição: Ana León, Gestos, 2025, MAAT. © Joana Linda / Cortesia MAAT.


Vista da exposição: Ana León, Gestos, 2025, MAAT. © Joana Linda / Cortesia MAAT.


Vista da exposição: Ana León, Gestos, 2025, MAAT. © Joana Linda / Cortesia MAAT.

Outras entrevistas:

ASCÂNIO MMM



YAW TEMBE



SILVESTRE PESTANA



ANA PI



ROMY CASTRO



AIDA CASTRO E MARIA MIRE



TITA MARAVILHA



FERNANDO SANTOS



FABÍOLA PASSOS



INÊS TELES



LUÍS ALVES DE MATOS E PEDRO SOUSA



PAULO LISBOA



CATARINA LEITÃO



JOSÉ BRAGANÇA DE MIRANDA



FÁTIMA RODRIGO



JENS RISCH



ISABEL CORDOVIL



FRANCISCA ALMEIDA E VERA MENEZES



RÄ DI MARTINO



NATXO CHECA



TERESA AREGA



UMBRAL — ooOoOoooOoOooOo



ANA RITO



TALES FREY



FÁTIMA MOTA



INÊS MENDES LEAL



LUÍS CASTRO



LUÍSA FERREIRA



JOÃO PIMENTA GOMES



PEDRO SENNA NUNES



SUZY BILA



INEZ TEIXEIRA



ABDIAS NASCIMENTO E O MUSEU DE ARTE NEGRA



CRISTIANO MANGOVO



HELENA FALCÃO CARNEIRO



DIOGO LANÇA BRANCO



FERNANDO AGUIAR



JOANA RIBEIRO



O STAND



CRISTINA ATAÍDE



DANIEL V. MELIM _ Parte II



DANIEL V. MELIM _ Parte I



RITA FERREIRA



CLÁUDIA MADEIRA



PEDRO BARREIRO



DORI NIGRO



ANTÓNIO OLAIO



MANOEL BARBOSA



MARIANA BRANDÃO



ANTÓNIO PINTO RIBEIRO E SANDRA VIEIRA JÜRGENS



INÊS BRITES



JOÃO LEONARDO



LUÍS CASTANHEIRA LOUREIRO



MAFALDA MIRANDA JACINTO



PROJECTO PARALAXE: LUÍSA ABREU, CAROLINA GRILO SANTOS, DIANA GEIROTO GONÇALVES



PATRÍCIA LINO



JOANA APARÍCIO TEJO



RAÚL MIRANDA



RACHEL KORMAN



MÓNICA ÁLVAREZ CAREAGA



FERNANDA BRENNER



JOÃO GABRIEL



RUI HORTA PEREIRA



JOHN AKOMFRAH



NUNO CERA



NUNO CENTENO



MEIKE HARTELUST



LUÍSA JACINTO



VERA CORTÊS



ANTÓNIO BARROS



MIGUEL GARCIA



VASCO ARAÚJO



CARLOS ANTUNES



XANA



PEDRO NEVES MARQUES



MAX HOOPER SCHNEIDER



BEATRIZ ALBUQUERQUE



VIRGINIA TORRENTE, JACOBO CASTELLANO E NOÉ SENDAS



PENELOPE CURTIS



EUGÉNIA MUSSA E CRISTIANA TEJO



RUI CHAFES



PAULO RIBEIRO



KERRY JAMES MARSHALL



CÍNTIA GIL



NOÉ SENDAS



FELIX MULA



ALEX KATZ



PEDRO TUDELA



SANDRO RESENDE



ANA JOTTA



ROSELEE GOLDBERG



MARTA MESTRE



NICOLAS BOURRIAUD



SOLANGE FARKAS



JOÃO FERREIRA



POGO TEATRO



JOSÉ BARRIAS



JORGE MOLDER



RUI POÇAS



JACK HALBERSTAM



JORGE GASPAR e ANA MARIN



GIULIANA BRUNO



IRINA POPOVA



CAMILLE MORINEAU



MIGUEL WANDSCHNEIDER



ÂNGELA M. FERREIRA



BRIAN GRIFFIN



DELFIM SARDO



ÂNGELA FERREIRA



PEDRO CABRAL SANTO



CARLA OLIVEIRA



NUNO FARIA



EUGENIO LOPEZ



JOÃO PEDRO RODRIGUES E JOÃO RUI GUERRA DA MATA



ISABEL CARLOS



TEIXEIRA COELHO



PEDRO COSTA



AUGUSTO CANEDO - BIENAL DE CERVEIRA



LUCAS CIMINO, GALERISTA



NEVILLE D’ALMEIDA



MICHAEL PETRY - Diretor do MOCA London



PAULO HERKENHOFF



CHUS MARTÍNEZ



MASSIMILIANO GIONI



MÁRIO TEIXEIRA DA SILVA ::: MÓDULO - CENTRO DIFUSOR DE ARTE



ANTON VIDOKLE



TOBI MAIER



ELIZABETH DE PORTZAMPARC



DOCLISBOA’ 12



PEDRO LAPA



CUAUHTÉMOC MEDINA



ANNA RAMOS (RÀDIO WEB MACBA)



CATARINA MARTINS



NICOLAS GALLEY



GABRIELA VAZ-PINHEIRO



BARTOMEU MARÍ



MARTINE ROBIN - Château de Servières



BABETTE MANGOLTE
Entrevista de Luciana Fina



RUI PRATA - Encontros da Imagem



BETTINA FUNCKE, editora de 100 NOTES – 100 THOUGHTS / dOCUMENTA (13)



JOSÉ ROCA - 8ª Bienal do Mercosul



LUÍS SILVA - Kunsthalle Lissabon



GERARDO MOSQUERA - PHotoEspaña



GIULIETTA SPERANZA



RUTH ADDISON



BÁRBARA COUTINHO



CARLOS URROZ



SUSANA GOMES DA SILVA



CAROLYN CHRISTOV-BAKARGIEV



HELENA BARRANHA



MARTA GILI



MOACIR DOS ANJOS



HELENA DE FREITAS



JOSÉ MAIA



CHRISTINE BUCI-GLUCKSMANN



ALOÑA INTXAURRANDIETA



TIAGO HESPANHA



TINY DOMINGOS



DAVID SANTOS



EDUARDO GARCÍA NIETO



VALERIE KABOV



ANTÓNIO PINTO RIBEIRO



PAULO REIS



GERARDO MOSQUERA



EUGENE TAN



PAULO CUNHA E SILVA



NICOLAS BOURRIAUD



JOSÉ ANTÓNIO FERNANDES DIAS



PEDRO GADANHO



GABRIEL ABRANTES



HU FANG



IVO MESQUITA



ANTHONY HUBERMAN



MAGDA DANYSZ



SÉRGIO MAH



ANDREW HOWARD



ALEXANDRE POMAR



CATHERINE MILLET



JOÃO PINHARANDA



LISETTE LAGNADO



NATASA PETRESIN



PABLO LEÓN DE LA BARRA



ESRA SARIGEDIK



FERNANDO ALVIM



ANNETTE MESSAGER



RAQUEL HENRIQUES DA SILVA



JEAN-FRANÇOIS CHOUGNET



MARC-OLIVIER WAHLER



JORGE DIAS



GEORG SCHÖLLHAMMER



JOÃO RIBAS



LUÍS SERPA



JOSÉ AMARAL LOPES



LUÍS SÁRAGGA LEAL



ANTOINE DE GALBERT



JORGE MOLDER



MANUEL J. BORJA-VILLEL



MIGUEL VON HAFE PÉREZ



JOÃO RENDEIRO



MARGARIDA VEIGA




ANA LÉON


28/04/2025

 


Conheci pessoalmente Ana Léon (Lisboa, 1957) em 2021, em Paris — cidade onde a artista reside — após alguns anos de trocas de e-mails e telefonemas. O nosso encontro aconteceu no bairro de Châtelet, num típico café parisiense. As palavras foram poucas — as palavras são sempre poucas com Ana Léon — mas compreendo hoje (ou penso compreender) que é no silêncio que ela melhor se expressa.

Embora trabalhe com a imagem — por vezes de forma quase obsessiva — e a dimensão sonora dos seus filmes seja tão marcante quanto a visual, é naquilo que se insinua, na ambiguidade que provocam, que os seus filmes realmente falam. Tudo neles é sugerido, nunca imposto, para que no fim seja o espectador a decidir o que está, afinal, a ver. Talvez essa seja uma das formas mais belas de liberdade.

Esta entrevista tem como ponto de partida a exposição Gestos, atualmente patente no MAAT, onde a artista apresenta seis filmes.


Por Raquel Guerra

 


>>>

 

RG: No texto de entrada da exposição Gestos lemos: "Todas estas leituras (e outras que cada visitante fizer) são deixadas em aberto pela artista, que insiste em não desenvolver discursos verbais e interpretativos sobre o conjunto da sua obra (...)."
Esta afirmação deixou-me apreensiva, uma vez que me propus a construir um conjunto de questões a partir da exposição e do seu trabalho.
Gostaria de lhe perguntar: qual a razão para essa recusa em desenvolver discursos interpretativos sobre o conjunto da sua obra?

AL: A questão, neste caso destes filmes, não é de não falar sobre os mesmos. Mas é minha intenção que não exprimam uma ideia em particular. E o que pretendo, para além de criar uma certa ambiguidade, é de provocar emoções e múltiplas interpretações naquele que os observa, seja qual for o meu ponto de partida ou os «personagens» que utilizo. Parece-me ser essa, a finalidade de um trabalho criativo.


RG: Gostaria de me focar em alguns aspetos concretos de obras que me chamaram particularmente a atenção durante a visita, começando pela peça Se regarder.
Para além da reflexão que o título já sugere — o confronto com a própria imagem, com o "eu" e todas as questões de identidade que daí decorrem —, senti também, ao observar a obra, uma forte tensão, quase uma sensação de violência.
Houve momentos em que me pareceu que o espectador era colocado perante uma cena de violência sexual.
Podemos falar de violência nesta peça? Esta dimensão esteve presente na sua conceção?

AL: Cada ponto de partida para um filme pode surgir de uma imagem, uma situação, um movimento, um gesto. Depois vai evoluir até se tornar um projeto.
Em «Se regarder» há forçosamente referências ao «duplo» através da sua imagem no espelho…. Claro que isso não exclui que, através dos movimentos repetitivos, através da imagem que se deforma, se dilui, possa ser interpretado de diferentes formas ou conter outras dimensões que não estavam forçosamente na sua origem.
E que o observador dê largas à sua imaginação ou fantasias não considero que seja um problema.


RG: Achei interessante a forma como o som não só acompanha, mas parece amplificar a experiência sensorial das obras. Sinto que a sonoridade não é apenas um fundo, mas um elemento ativo na construção da narrativa e na intensificação da psicologia da personagem. De que forma o som e a imagem se "fundem" ou se desafiam mutuamente no seu trabalho?

AL: De facto, nos meus filmes, o som é tão importante como a imagem.
É trabalhado posteriormente (depois do filme ser digitalizado) quase da mesma forma minuciosa como as imagens são captadas (por «stop motion») podendo ser repetido, deformado, alongado, etc., conforme o resultado que quero obter.


RG: A dimensão sonora parece-me um elemento fundamental em quase todas as obras expostas.
No entanto, o som da peça Se dédoubler chamou-me particularmente a atenção — parece quase pertencer ao domínio da alucinação.
De repente, a personagem desdobra-se, ou multiplica-se, numa viagem que quase roça o psicadélico.
Qual é o papel da dimensão sonora na peça Se dédoubler?

AL: No filme « Se dédoubler » , o som não tem mais importância que em qualquer outro. Pretende sempre acompanhar a intensificação da imagem. É isso o essencial.


RG: Na peça Se retourner, seis personagens masculinas executam uma coreografia sincronizada, mas, a certa altura, essa sincronização é interrompida. Cada uma das personagens começa a realizar um movimento distinto, até que, no final, todos se reencontram e voltam a sincronizar-se.
Essa quebra da sincronização e a posterior reconciliação dos movimentos podem ser vistas como uma metáfora para o processo de encontrar a calma depois do caos?

AL: Neste filme, como noutros, a lentidão das imagens («ralenti») põe em evidência a questão do tempo: quando estou a «acelerar» ou a «diminuir» a velocidade de uma ação/movimento, estou a criar outra noção do tempo (que não podemos controlar); neste caso os movimentos são extremamente lentos, depois dessincronizados, e só no final se sincronizam num movimento rápido.


RG: Na peça Avancer, tal como em Se retourner, observamos uma coreografia sincronizada, desta vez com sete personagens masculinas. O som de respiração ofegante acompanha toda a performance, criando uma sensação intensa.
Qual é a importância desse som na peça? Ele funciona como um reflexo da tensão física e emocional das personagens, ou há outra leitura que gostaria de explorar através dessa sonoridade?

AL: O som, como referi anteriormente, intensifica os movimentos dos personagens. E, sim, pretende aumentar essa tensão criada pelos personagens.


RG: Na obra Percevoir, várias personagens sucedem-se umas às outras, quase como se surgissem umas das outras. A certa altura, elas parecem literalmente sair de dentro umas das outras, criando uma sensação de interligação. O som da peça remete para o som de uma máquina de suporte de vida, reforçando uma ideia de continuidade e, ao mesmo tempo, de fragilidade.
Como vê a relação entre o humano e a máquina nesta obra, especialmente considerando o som da máquina de suporte de vida? A interligação das personagens e o som quase clínico sugerem não apenas uma continuidade, mas também uma dependência entre o humano e o tecnológico, como se essa fusão fosse inevitavelmente ligada à ideia de morte e à sua presença constante?

AL: Neste filme («Percevoir») podemos de facto interpretar o som destas «respirações» adicionadas às imagens como uma ideia de renovação constante, ideia de vida/morte. Embora não seja a única.


RG: "Num boneco que cai, sonha-se um corpo que cai, sonha-se a queda de um corpo, sonha-se o corpo da queda", escreveu Luís António Umbelino no catálogo da exposição Corpos (CAPC, 2020). Ao ler esta passagem, lembrei-me imediatamente de Tomber, uma obra que está presente em ambas as exposições.
Que corpo é este — ora inteiro, ora fragmentado, ora vivo, ou talvez não — que vemos nesta obra? Como é que a queda, o corpo e a sua possível fragmentação se associam neste contexto?

AL: São corpos que caem. Movimentos repetidos (repetição obsessiva) sendo cada vez mais lentos, como se, a uma dada altura, se pudesse parar esses movimentos das quedas dos corpos…

 

 


:::


Raquel Guerra (Porto, 1976) é doutoranda em Arte Contemporânea no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, onde desenvolve a tese A prática curatorial: uma análise crítica. Curadora, tem colaborado em diversos projetos ligados à arte contemporânea em Portugal. Tem-se dedicado à gestão de coleções de arte contemporânea e de espólios de artistas, como o da artista Maria Lino. Co-organizou, com a artista Ção Pestana, o seu portefólio Ção Pestana 1977–2017. Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian em 2011, realizando uma residência curatorial no Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo), no âmbito do programa Capacete. Em 2021, realizou uma residência curatorial no Centre Photographique d’Île-de-France, com o apoio da Câmara Municipal do Porto (Programa Shuttle). Em 2022, participou no programa Curator Tour – Expériences Curatoriales Nomades, a convite da Air de Midi – Réseau art contemporain en Occitanie. Foi diretora do Centro de Arte Oliva e do Centro de Arte de São João da Madeira. Atualmente é artist’s adviser do International Lab for Art Practices – ILAP_US, um programa da Uncool Artist, e desenvolve o programa de acompanhamento crítico e curatorial para artistas “Encontro-Discussão + Acompanhamento-Concretização”.