Links

PERSPETIVA ATUAL


Assembleia Geral do ICOM, em Quioto.


Assembleia Geral do ICOM, em Quioto: intervenção de Luís Raposo.


Definição de Museu segundo o ICOM.

Outros artigos:

2024-04-13


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2024-03-04


PEDRO CABRAL SANTO


2024-01-27


NUNO LOURENÇO


2023-12-24


MAFALDA TEIXEIRA


2023-11-21


MARC LENOT


2023-10-16


MARC LENOT


2023-09-10


INÊS FERREIRA-NORMAN


2023-08-09


DENISE MATTAR


2023-07-05


CONSTANÇA BABO


2023-06-05


MIGUEL PINTO


2023-04-28


JOÃO BORGES DA CUNHA


2023-03-22


VERONICA CORDEIRO


2023-02-20


SALOMÉ CASTRO


2023-01-12


SARA MAGNO


2022-12-04


PAULA PINTO


2022-11-03


MARC LENOT


2022-09-30


PAULA PINTO


2022-08-31


JOÃO BORGES DA CUNHA


2022-07-31


MADALENA FOLGADO


2022-06-30


INÊS FERREIRA-NORMAN


2022-05-31


MADALENA FOLGADO


2022-04-30


JOANA MENDONÇA


2022-03-27


JEANNE MERCIER


2022-02-26


PEDRO CABRAL SANTO


2022-01-30


PEDRO CABRAL SANTO


2021-12-29


PEDRO CABRAL SANTO


2021-11-22


MANUELA HARGREAVES


2021-10-28


CARLA CARBONE


2021-09-27


PEDRO CABRAL SANTO


2021-08-11


RITA ANUAR


2021-07-04


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-05-30


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2021-04-28


CONSTANÇA BABO


2021-03-17


VICTOR PINTO DA FONSECA


2021-02-08


MARC LENOT


2021-01-01


MANUELA HARGREAVES


2020-12-01


CARLA CARBONE


2020-10-21


BRUNO MARQUES


2020-09-16


FÁTIMA LOPES CARDOSO


2020-08-14


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-07-21


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-25


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-06-09


PEDRO CABRAL SANTO E NUNO ESTEVES DA SILVA


2020-05-21


MANUELA HARGREAVES


2020-05-01


MANUELA HARGREAVES


2020-04-04


SUSANA GRAÇA E CARLOS PIMENTA


2020-03-02


PEDRO PORTUGAL


2020-01-21


NUNO LOURENÇO


2019-12-11


VICTOR PINTO DA FONSECA


2019-11-09


SÉRGIO PARREIRA


2019-09-03


SÉRGIO PARREIRA


2019-07-30


JULIA FLAMINGO


2019-06-22


INÊS FERREIRA-NORMAN


2019-05-09


INÊS M. FERREIRA-NORMAN


2019-04-03


DONNY CORREIA


2019-02-15


JOANA CONSIGLIERI


2018-12-22


LAURA CASTRO


2018-11-22


NICOLÁS NARVÁEZ ALQUINTA


2018-10-13


MIRIAN TAVARES


2018-09-11


JULIA FLAMINGO


2018-07-25


RUI MATOSO


2018-06-25


MARIA DE FÁTIMA LAMBERT


2018-05-25


MARIA VLACHOU


2018-04-18


BRUNO CARACOL


2018-03-08


VICTOR PINTO DA FONSECA


2018-01-26


ANA BALONA DE OLIVEIRA


2017-12-18


CONSTANÇA BABO


2017-11-12


HELENA OSÓRIO


2017-10-09


PAULA PINTO


2017-09-05


PAULA PINTO


2017-07-26


NATÁLIA VILARINHO


2017-07-17


ANA RITO


2017-07-11


PEDRO POUSADA


2017-06-30


PEDRO POUSADA


2017-05-31


CONSTANÇA BABO


2017-04-26


MARC LENOT


2017-03-28


ALEXANDRA BALONA


2017-02-10


CONSTANÇA BABO


2017-01-06


CONSTANÇA BABO


2016-12-13


CONSTANÇA BABO


2016-11-08


ADRIANO MIXINGE


2016-10-20


ALBERTO MORENO


2016-10-07


ALBERTO MORENO


2016-08-29


NATÁLIA VILARINHO


2016-06-28


VICTOR PINTO DA FONSECA


2016-05-25


DIOGO DA CRUZ


2016-04-16


NAMALIMBA COELHO


2016-03-17


FILIPE AFONSO


2016-02-15


ANA BARROSO


2016-01-08


TAL R EM CONVERSA COM FABRICE HERGOTT


2015-11-28


MARTA RODRIGUES


2015-10-17


ANA BARROSO


2015-09-17


ALBERTO MORENO


2015-07-21


JOANA BRAGA, JOANA PESTANA E INÊS VEIGA


2015-06-20


PATRÍCIA PRIOR


2015-05-19


JOÃO CARLOS DE ALMEIDA E SILVA


2015-04-13


Natália Vilarinho


2015-03-17


Liz Vahia


2015-02-09


Lara Torres


2015-01-07


JOSÉ RAPOSO


2014-12-09


Sara Castelo Branco


2014-11-11


Natália Vilarinho


2014-10-07


Clara Gomes


2014-08-21


Paula Pinto


2014-07-15


Juliana de Moraes Monteiro


2014-06-13


Catarina Cabral


2014-05-14


Alexandra Balona


2014-04-17


Ana Barroso


2014-03-18


Filipa Coimbra


2014-01-30


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2013-12-09


SOFIA NUNES


2013-10-18


ISADORA H. PITELLA


2013-09-24


SANDRA VIEIRA JÜRGENS


2013-08-12


ISADORA H. PITELLA


2013-06-27


SOFIA NUNES


2013-06-04


MARIA JOÃO GUERREIRO


2013-05-13


ROSANA SANCIN


2013-04-02


MILENA FÉRNANDEZ


2013-03-12


FERNANDO BRUNO


2013-02-09


ARTECAPITAL


2013-01-02


ZARA SOARES


2012-12-10


ISABEL NOGUEIRA


2012-11-05


ANA SENA


2012-10-08


ZARA SOARES


2012-09-21


ZARA SOARES


2012-09-10


JOÃO LAIA


2012-08-31


ARTECAPITAL


2012-08-24


ARTECAPITAL


2012-08-06


JOÃO LAIA


2012-07-16


ROSANA SANCIN


2012-06-25


VIRGINIA TORRENTE


2012-06-14


A ART BASEL


2012-06-05


dOCUMENTA (13)


2012-04-26


PATRÍCIA ROSAS


2012-03-18


SABRINA MOURA


2012-02-02


ROSANA SANCIN


2012-01-02


PATRÍCIA TRINDADE


2011-11-02


PATRÍCIA ROSAS


2011-10-18


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-09-23


MARIA BEATRIZ MARQUILHAS


2011-07-28


PATRÍCIA ROSAS


2011-06-21


SÍLVIA GUERRA


2011-05-02


CARLOS ALCOBIA


2011-04-13


SÓNIA BORGES


2011-03-21


ARTECAPITAL


2011-03-16


ARTECAPITAL


2011-02-18


MANUEL BORJA-VILLEL


2011-02-01


ARTECAPITAL


2011-01-12


ATLAS - COMO LEVAR O MUNDO ÀS COSTAS?


2010-12-21


BRUNO LEITÃO


2010-11-29


SÍLVIA GUERRA


2010-10-26


SÍLVIA GUERRA


2010-09-30


ANDRÉ NOGUEIRA


2010-09-22


EL CULTURAL


2010-07-28


ROSANA SANCIN


2010-06-20


ART 41 BASEL


2010-05-11


ROSANA SANCIN


2010-04-15


FABIO CYPRIANO - Folha de S.Paulo


2010-03-19


ALEXANDRA BELEZA MOREIRA


2010-03-01


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-02-17


ANTÓNIO PINTO RIBEIRO


2010-01-26


SUSANA MOUZINHO


2009-12-16


ROSANA SANCIN


2009-11-10


PEDRO NEVES MARQUES


2009-10-20


SÍLVIA GUERRA


2009-10-05


PEDRO NEVES MARQUES


2009-09-21


MARTA MESTRE


2009-09-13


LUÍSA SANTOS


2009-08-22


TERESA CASTRO


2009-07-24


PEDRO DOS REIS


2009-06-15


SÍLVIA GUERRA


2009-06-11


SANDRA LOURENÇO


2009-06-10


SÍLVIA GUERRA


2009-05-28


LUÍSA SANTOS


2009-05-04


SÍLVIA GUERRA


2009-04-13


JOSÉ MANUEL BÁRTOLO


2009-03-23


PEDRO DOS REIS


2009-03-03


EMANUEL CAMEIRA


2009-02-13


SÍLVIA GUERRA


2009-01-26


ANA CARDOSO


2009-01-13


ISABEL NOGUEIRA


2008-12-16


MARTA LANÇA


2008-11-25


SÍLVIA GUERRA


2008-11-08


PEDRO DOS REIS


2008-11-01


ANA CARDOSO


2008-10-27


SÍLVIA GUERRA


2008-10-18


SÍLVIA GUERRA


2008-09-30


ARTECAPITAL


2008-09-15


ARTECAPITAL


2008-08-31


ARTECAPITAL


2008-08-11


INÊS MOREIRA


2008-07-25


ANA CARDOSO


2008-07-07


SANDRA LOURENÇO


2008-06-25


IVO MESQUITA


2008-06-09


SÍLVIA GUERRA


2008-06-05


SÍLVIA GUERRA


2008-05-14


FILIPA RAMOS


2008-05-04


PEDRO DOS REIS


2008-04-09


ANA CARDOSO


2008-04-03


ANA CARDOSO


2008-03-12


NUNO LOURENÇO


2008-02-25


ANA CARDOSO


2008-02-12


MIGUEL CAISSOTTI


2008-02-04


DANIELA LABRA


2008-01-07


SÍLVIA GUERRA


2007-12-17


ANA CARDOSO


2007-12-02


NUNO LOURENÇO


2007-11-18


ANA CARDOSO


2007-11-17


SÍLVIA GUERRA


2007-11-14


LÍGIA AFONSO


2007-11-08


SÍLVIA GUERRA


2007-11-02


AIDA CASTRO


2007-10-25


SÍLVIA GUERRA


2007-10-20


SÍLVIA GUERRA


2007-10-01


TERESA CASTRO


2007-09-20


LÍGIA AFONSO


2007-08-30


JOANA BÉRTHOLO


2007-08-21


LÍGIA AFONSO


2007-08-06


CRISTINA CAMPOS


2007-07-15


JOANA LUCAS


2007-07-02


ANTÓNIO PRETO


2007-06-21


ANA CARDOSO


2007-06-12


TERESA CASTRO


2007-06-06


ALICE GEIRINHAS / ISABEL RIBEIRO


2007-05-22


ANA CARDOSO


2007-05-12


AIDA CASTRO


2007-04-24


SÍLVIA GUERRA


2007-04-13


ANA CARDOSO


2007-03-26


INÊS MOREIRA


2007-03-07


ANA CARDOSO


2007-03-01


FILIPA RAMOS


2007-02-21


SANDRA VIEIRA JURGENS


2007-01-28


TERESA CASTRO


2007-01-16


SÍLVIA GUERRA


2006-12-15


CRISTINA CAMPOS


2006-12-07


ANA CARDOSO


2006-12-04


SÍLVIA GUERRA


2006-11-28


SÍLVIA GUERRA


2006-11-13


ARTECAPITAL


2006-11-07


ANA CARDOSO


2006-10-30


SÍLVIA GUERRA


2006-10-29


SÍLVIA GUERRA


2006-10-27


SÍLVIA GUERRA


2006-10-11


ANA CARDOSO


2006-09-25


TERESA CASTRO


2006-09-03


ANTÓNIO PRETO


2006-08-17


JOSÉ BÁRTOLO


2006-07-24


ANTÓNIO PRETO


2006-07-06


MIGUEL CAISSOTTI


2006-06-14


ALICE GEIRINHAS


2006-06-07


JOSÉ ROSEIRA


2006-05-24


INÊS MOREIRA


2006-05-10


AIDA E. DE CASTRO


2006-04-05


SANDRA VIEIRA JURGENS



O QUE SÃO E PARA QUE SERVEM OS MUSEUS, NA DEFINIÇÃO DO ICOM



LUÍS RAPOSO

2019-10-09




 

 

Obteve grande eco em todo o mundo a recente discussão travada em Quioto, no Japão, no seio do Conselho Internacional dos Museus (ICOM) sobre a possível adopção de uma nova definição de museu por parte daquela ONG, a única reconhecida pela UNESCO como representativa da opinião dos museus e dos profissionais de museus em todo o mundo. Não obstante este impacte, muitos não perceberam, e continuam a não perceber, o que verdadeiramente estava em causa e porque tal se afigurava ser tão importante. Tentemos, pois, explicá-lo aqui.

A actual definição de museu do ICOM foi fixada em 2007, ou seja não há tanto tempo assim, considerando o sentido de permanência dos museus. Baseou-se em definições anteriores, numa cadeia que remonta à própria criação do sistema das Nações Unidas, UNESCO e ICOM, no pós-2ª Guerra Mundial. Ou seja, não houve até há pouco mais de uma década rupturas abruptas no modo como entendemos o “ser museu”.

Estabelece-se esta definição o seguinte:

 

“O museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite.”

 

O contraste com a definição que era agora proposta para adopção é flagrante, como se pode verificar pela sua mera enunciação (a qual, sempre que dita em voz alta, era suficiente para causar risos na assistência):

 

Os Museus são espaços democratizantes, inclusivos e polifónicos, orientados para o diálogo crítico sobre os passados e os futuros. Reconhecendo e lidando com os conflitos e desafios do presente, detêm, em nome da sociedade, a custódia de artefactos e espécimes, por ela preservam memórias diversas para as gerações futuras, garantindo a igualdade de direitos e de acesso ao património a todas as pessoas.

 

Os museus não têm fins lucrativos. São participativos e transparentes; trabalham em parceria activa com e para comunidades diversas na recolha, conservação, investigação, interpretação, exposição e aprofundamento dos vários entendimentos do mundo, com o objectivo de contribuir para a dignidade humana e para a justiça social, a igualdade global e o bem-estar planetário.

 

Dificilmente poderia ser imaginado maior dissonância entre o que temos e o que se pretendia virmos a ter: diferente dimensão, diferente estrutura formal, diferente fraseologia e sobretudo diferente enquadramento conceptual. “Polifónico”, “igualdade global” (certamente diferente de igualdade parcial…), “bem-estar planetário”, “custódia”, “democratizante”… enfim, um vistoso fogo-de-artifício verbal.

Chegados aqui importa precisar o que é o ICOM. Bom, como se disse antes é uma ONG de museus e profissionais de museus: mais de 44 mil em todo o mundo, sendo mais de 80% europeus, os quais pagam mais de 90% das quotas que sustentam o todo. Trata-se de uma organização concebida em sistema “da base para o topo”, sendo todos os cargos, a todos os níveis, eleitos por mandatos de 3 anos, renováveis apenas uma vez. A Assembleia Geral, que constitui o órgão máximo e foi chamada a decidir esta questão, é composta por mais de 120 comités nacionais, todos com igual número de votos independentemente da sua grandeza (e há comités europeus com largos milhares de membros, enquanto outros, noutros continentes, possuem somente poucas dezenas), aos quais acrescem mais de 30 comités internacionais ou de especialidade, 6 alianças regionais e cerca de 20 organizações associadas, que não integram o ICOM, mas mantém com ele laços institucionais.

E quanto à definição de museus, para que serve ela? Bom, no plano interno da organização serve para determinar quem pode e quem não pode ser membro, numa perspectiva que sempre foi e sempre terá de ser algo limitadora tanto por questões sociológicas de manutenção da coesão profissional e dos vínculos que dela decorrem, como pela responsabilidade assumida perante terceiros em matérias tão sensíveis como a da outorga do “cartão ICOM”, que constitui um salvo-conduto de entrada gratuita em quase todos os museus mundiais, algo sem suporte contratual e baseado na bona fide, ou seja, em relações de confiança que garantam a sua titularidade dentro dos princípios restritivos indicados.

Mas serve a definição de museu do ICOM sobretudo como orientação para todos os que se relacionam com os museus e nomeadamente para o estabelecimento das ordenações jurídicas nacionais e internacionais. Em larguíssima dezenas de países, por todo o mundo, incluindo Portugal, a definição do ICOM, tal e qual ou com pequenos ajustamentos, constitui a âncora que permite identificar, e legitimar, os museus e os seus profissionais perante a sociedade e principalmente, em termos operacionais, perante os poderes públicos. É ela que garante que os museus devem possuir identidade jurídica formal, traduzida idealmente em direcções, quadros de pessoal e orçamentos próprios. Por extensão, também garante que os profissionais afectos ao desempenho das chamadas “funções museológicas”, tal como identificadas na definição, são reconhecidos nas suas carreiras profissionais, com tudo o que isso implica nos planos da formação, da autonomia técnica e até do vencimento.

Como se vê, a definição de museu pelo ICOM contem implicações muito práticas e importa absolutamente que seja susceptível de ser adoptada por virtualmente todos os países do mundo, sejam eles de que dimensão forem e tenham os sistema económico e os regimes políticos que tiverem. Não se trata, pois, primordialmente, de um manifesto em defesa de uma qualquer concepção social; trata-se de um instrumento socioprofissional, visando finalidades práticas, começando pelas jurídicas, onde as dimensões cívicas devem estar presentes, mas subordinadas às vertentes que se poderiam designar por “técnicas”.

Ora, a nova definição proposta e acima transcrita constitui principalmente uma espécie de “hino” ou “visão”, com vincado cunho doutrinário e usando aliás linguagem típica do activismo identitário. Lendo-a, sobretudo no seu primeiro parágrafo, poderíamos dizer que constitui uma aspiração que poderia ser subscrita por qualquer instituição cultural, ou até social em geral, e não somente e pelos museus, não os individualizando e, logo, não os definindo na sua irredutível originalidade – a única que lhes garante relevância a longo prazo. Ao segundo parágrafo, mais “´técnico” e iniciado por frase solta, algo desgarrada, em que se fala dos museus como entidades “sem fins lucrativos” (veio-se a perceber mais tarde que este carácter algo desgarrado se deve a que esta característica não era considerada na versão inicial apresentada pelo grupo de trabalho e foi metida à força, por imposição do conselho executivo do ICOM, que formalmente foi a entidade que apresentou a proposta à Assembleia Geral), faltam elementos tão essencial como o de estabelecer que os museus são “instituições permanentes” – e só este aspecto, por exemplo, suscitou protestos vigorosos tanto de comités europeus como de comités africanos e sul-americanos, que vêem nele a garantia da autonomia legal dos museus nos seus respectivos ordenamentos jurídicos.

As lacunas exemplificadas (“sem fins lucrativos” ou “instituição permanente”) não constituíam meros lapsos. Sabíamos disso, claro, mas disse-o também uma das porta-vozes do grupo de trabalho que preparou a nova definição: é que tanto para o activismo identitário como para a especulação capitalista, convém que os museus se convertam o mais possível em projectos circunstanciais, de geometria variável e sem sentido de perenidade, com menorização das colecções, que simplesmente devem ser existir enquanto activos, postos ao serviço de acções de “agitação e propaganda”, para uns, ou de “rentabilização financeira”, para outros.

Ora, não é nada disto que a esmagadora maioria das dezenas de milhares de membros do ICOM pensam e querem. E disseram-no com enorme ruido, tanto ao longo de uma imensa manhã (com intervenções por vezes acaloradas), como na votação final de proposta algo diplomática, exigindo o adiamento de qualquer decisão, para que novas alternativas apareçam, proposta que foi votada por 70% dos delegados (se a nova proposta de definição fosse mesmo a votos seria rejeitada por muito mais percentagem seguramente).

É que, contrariamente a quem de fora dos museus apenas ou principalmente retém a dimensão do activismo social, os profissionais dos mesmos sabem bem que eles servem acima de tudo os propósitos da memória e do contrato intergeracional, pelos quais cada presente entende preservar vestígios materiais remanescentes do passado, as colecções, para seu benefício e gozo, é certo, mas também e sobretudo para levar até aos vindouros. À pergunta porque aceita pagar impostos para ter museus, é óbvio que a esmagadora maioria dos contribuintes dirá que é para manter em boas condições as colecções que neles se guardam. Só depois virão as funções de promoção do conhecimento e, diria que infelizmente, ainda somente depois as da cidadania activa, sendo que as da discussão de temas controversos ficarão no fim da linha.

Entre os profissionais dos museus haverá certamente diferentes sensibilidades quanto à importância relativa de cada uma das dimensões acabadas de indicar, sendo que elas variarão também enormemente de museu para museu. Um museu comunitário, por exemplo, poderá (em meu entender deverá) ter como principal o empoderamento da comunidade a que pertence; um museu sobre o tema da opressão social (seja ela de nações inteiras, seja de grupos dentro ou fora delas) deverá abordar sem receio questões incómodas, sem esconder fantasmas que possam existir nos armários, tudo numa óptica de formação de pessoas livres; mas já um museu de arte antiga, poderá ter como primeira motivação a de “simplesmente” dar a conhecer as obras de arte, assim promovendo a cultura e o gosto públicos.

Tudo isto tem lugar na vasta terra dos museus, debaixo do mesmo céu da memória e da cidadania. E a definição dessa imensa e diversificada terra, sobretudo por parte de uma ONG como o ICOM, deve dar disso conta. A actual vai precisamente nessa direcção ao enunciar sucessivamente a “natureza”, a “função”, o “âmbito” e os “objectivos” últimos dos museus. Vejam-se sobre a mesma os comentários explicativos que fiz na minha página de Facebook e de que selecciono os endereços que seguem abaixo. Poderá ser modificada? Com certeza e pelo meu lado deveria ser no sentido de um maior ênfase no comprometimento comunitário. Mas é mister que o seja com grande prudência, mantendo o enquadramento conceptual, e até a maior parte da linguagem, herdados de décadas anteriores. Uma nova definição, em suma, terá tudo a ganhar em constituir mais um aperfeiçoamento da actual e não um salto no abismo, no nos recomendavam agora fazer.

 

 

 

Luís Raposo
Arqueólogo; Presidente do ICOM Europa

 

 

 

:::

 

Comentários adicionais à definição de museu:


https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2059944914124079
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2061843560600881
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2064602383658332
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/2060036310781606:33
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/2060036310781606:32
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/2068993719885865
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/2070566556395248
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/2075276022590968
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/1629597193825522
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/1630158413769400
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/1631098803675361
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/1632129913572250
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/1633297813455460
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/1634662023319039
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/2078097972308773
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/2079473282171242
https://www.facebook.com/groups/1376717199215511/permalink
https://www.facebook.com/groups/1376717199215511/permalink
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/2129780193807217
https://www.facebook.com/groups/1376717199215511/permalink
https://www.facebook.com/groups/1376717199215511/permalink
https://www.facebook.com/groups/1376717199215511/permalink
https://www.facebook.com/raposo.luis/posts/2008499382601966
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1440857892699454&set=a.894620927323156&type=3